4 - O mar de ondas que mesmeriza

Uma rádio seria um dos melhores lugares do mundo para trabalhar se fosse permitido irradiar tudo o que precisa ser dito e se os que sabem dizer o que precisa ser dito fossem contratados e mantidos no emprego pelos donos das rádios. Obviamente isso não acontece no Brasil, onde a quase totalidade dos meios de comunicação às massas está nas mãos de oligopólios e coronéis do porcorativo poder econômico-político braziliano, onde todos os que servem a essa porco-corporação são discreta e indecentemente poupados, ou escandalosamente aclamados nesses veículos.

Ao meio-dia em ponto chegamos eu e o Conselheiro Galvão (Conselheiro de Cultura da Bahia Araken Vaz Galvão) à simpática rádio Valença FM. Não sei a quem pertence essa rádio, se a algum coronel da política ou da economia regional, se a algum oligopólio, ou se os radialistas ali estão livres das peias dos "podres poderes" - o que duvido, mas caracterizaria uma belíssima ilha no vasto mar de ondas eletromagnéticas mesmerizadas pelo dinheiro, pelo mercado, pelo poder e seus dominantes e excludentes interesses. Como convidado e feliz hóspede de Valença que fui, torço para que seja, ou ainda venha a ser o caso esta excepcionalidade.

Fui à rádio para informar sobre a conversa que teria logo à noite, a convite do Professor Moacir Saraiva, com as alunas e professores, professoras e alunos das várias turmas do Curso de Letras da FACE - Faculdade de Ciências Educacionais, sobre prosa, Internet, poesia, ou seja, letras para arte e humanidade, seus usos e costumes, não mercadológicos, não demagógicos, não emburrecedores.

Antes da minha vez de falar assistimos, de dentro do estúdio, a entrevista que três radialistas faziam com o prefeito recém eleito em um município vizinho. Perguntaram sobre os planos de governo em seu futuro mandato e sobre alguns problemas que o município apresentava. Enquanto eu ouvia o eleito responder às perguntas, me dava conta do quanto os políticos profissionais falam igual, do RS à Bahia, antes e adiante. Deve ser um curso por correspondência que eles fazem.

A nossa aldeia é o nosso universo, e o prefeito eleito é o felizardo ungido para o cargo de comandante temporário desse universo. Em conformidade com a imensa honra que recebe e responsabilidades que aceita como suas é que deveria agir. Os novos milhares de comandantes de universos - na suas formas essenciais, que são as aldeias - deveriam ser ao mesmo tempo sociólogos, filósofos, empreendedores, administradores, poetas, e não aquilo que temos visto em tantas e tamanhas ocasiões em que, investidos de poder, sobe-lhes à cabeça o que têm nos intestinos e comportam-se como porcos finalmente soltos do chiqueiro, ansiosos por se atirar à lama, virar todos os cochos, chafurdar de todas as maneiras.

Que os novos prefeitos, principalmente os da minha aldeia, a qual já tem caminhos próprios em vários municípios, inclusive Valença, busquem o perfeito exercício do seu universal poder e abstenham-se de porcarias, enlameações, emporcalhamentos, que suspeitem primeiro de si mesmos quando um balde de lavagem lhes parecer atraente. São meus votos, depois do voto, para um próximo ano novo, de verdade.

(Continua outro dia.)

Para acompanhar a seqüência até este quarto relato da viagem que fiz à Bahia, leia também o primeiro, segundo e terceiro relatos.

Comentários

ZEPOVO disse…
passei aqui...
Anônimo disse…
Valença agradece suas generosas palavras e acompanha seus belos textos.
Conselheiro Galvão
Jens disse…
Jean, o rádio é um canhão poderoso demais para os oligarcas deixarem nas mãos do populacho. Afinal, atinge a todos em qualquer hora e lugar.
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PS: aguardo ansioso teu comentário sobre o jogo de cartas marcadas que foi a votação do projeto que autoriza a construção de espigões à beira do Guaíba. A turma do cimento ganhou. Para alguns vereadores, Papai Noel gordo.
Um abraço.