Descriminalização do aborto, democracia e respeito aos direitos e deveres humanos

Li no blog RS Urgente que um juíz e uma antropóloga tomaram a iniciativa de apresentar um texto e abaixo-assinado atacando o parecer contrário à descriminalização do aborto, apresentado dia 24/6 pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), deputado Eduardo Cunha.

Para contribuir com o tema lanço a campanha ABORTO SÓ AOS 18 ANOS. Ao atingir a maioridade, e somente então, a pessoa poderia optar por ser abortada, antes jamais. Ao escolher ser abortada a pessoa maior de idade e capaz iria a uma unidade do SUS que realizaria o procedimento legalmente, com a máxima higiene, rapidez e sem sofrimento para o abortado voluntário. Aliás, acho necessário lançar também uma segunda campanha: ABORTO SÓ PARA VOLUNTÁRIOS, que claramente visa a que ninguém ao completar 18 anos venha a ser constrangido, induzido ou forçado ao aborto.

Poderíamos assim fazer uma ampla campanha na TV: "O aborto não é mais crime! Sua grande chance, pela qual você esperou toda sua vida, chegou: se você é maior de 18 anos e legalmente capaz, pode optar livremente por ser abortado hoje mesmo. Dirija-se a uma unidade do SUS - hospital, posto de saúde- ou a uma unidade do Exército, Marinha ou Aeronáutica e solicite seu direito dizendo apenas: - desejo ser abortado. Você então assistirá um vídeo de 15 minutos (é uma exigência legal) sobre as vantagens e eventuais desvantagens do procedimento, assinará alguns documentos declarando sua livre e espontânea opção, um termo de doação de órgãos (é obrigatório, pois o Estado lhe proverá um digno funeral) e um breve testamento caso você possua bens materiais. Aborte-se já! Graças à luta de milhares de pessoas e instituições ao longo de décadas agora este é um direito seu. Procure hoje mesmo um posto de saúde civil ou militar."

Para evitar influência e pressões religiosas deverão ser proibidas peças publicitárias que incentivem o aborto com exortações do tipo: - ingresse na sua nova vida imediatamente - procure o Médico Pastor Jequitibah no postinho de saúde da Igreja Universal dos Últimos Pecados e Primeiros Santos Dias, garanta já sua vida eterna. Ou então peças que o desestimulem: - Não se aborte, pois é pecado deixar de pagar o duodízimo semanalmente à sua Congregação do Confabulário Catesísmico - aguarde o final dos tempos, pois é seu dever e além disso será aquele espetáculo!

Lembre-se apenas: se você é maior de idade e lhe parece que não há lugar para você no mundo, se sua existência causa transtorno ou desconforto aos seus parentes e raros amigos (provavelmente você nem os tenha), se você tem a sensação de ser uma fonte inesgotável de dissabores e contrariedade às pessoas à sua volta e a si mesmo, não procure uma igreja, um buteco, uma caverna, um psiquiatra, procure um posto de saúde credenciado.

PS - Yeda, a Anta que o Rio Grande Carrega estaria inclinada a assinar a petição do juíz e da antropóloga, pois a descriminalização do aborto seria uma forma legal (ufa, finalmente alguma legalidade no horizonte da PSDBista) de evitar bebês japoneses indesejados.

Comentários

Renato Couto disse…
Um juíz e uma antropóloga, colocaram de título do documento: "Resposta da SOCIEDADE BRASILEIRA...", pretensão destes arautos da sociedade...
Jean, contribuindo com sua sugestão, pondero que também poderiam os maiores de 65 anos serem abortados compulsóriamente, assim o dito deficit da previdência, reduziria sensivelmente, chegando até a dar superavit, pois a arrecadação passaria a ser muito maior que o pagamento de aposentadorias...
Jean Scharlau disse…
Renato, muito embora a morte de velhinhos(as) acabe acontecendo de qualquer jeito e na maioria das vezes em condições insalubres e mesmo infectas, com desconforto e graves riscos para a família e outras pessoas, sou totalmente contra a obrigatoriedade do aborto nesses e em quaisquer outros casos. Acho que o aborto deve ser uma decisão individual, madura, legal e exclusiva daquele ou daquela que será abortado(a).

Legalize-se a compulsoriedade do aborto para velhinhas em situação de risco e dali mais algum tempo a sociedade estará pretendendo legalizar o aborto compulsório de crianças e até de bebês. Sei que isso parece bizarro dito hoje, mas creia-me que a espécie humana é fecunda também em maldade e bizzarria.

Quanto ao juíz, convenhamos que, trabalhando em vara de família, de muito trabalho ele se livrará caso venha a ser descriminalizado o aborto. A antropóloga também parece não gostar muito do seu serviço. Ou seria apenas uma antopóloga?
José Elesbán disse…
Belo post, Jean. Gostei!
Acho que vou copiar para os meus blogues.