Matou o tempo e (pra não ficar só, num mundo sem tempo) foi ao cinema

Ontem, último recurso de quem está descendo em redemoínho pelo ralo da solidão, fui ao cinema. Duas vezes. O cinema, uma sala escura, onde ficamos cercados de gente que ignoramos ostensivamente em hora e meia de sintonia explícita com o mesmo interesse, todos com os pensamentos naquelas outras gentes que aparecem na tela... Mera tese que não se provou. Domingo, 18:30, Casa de Cultura Mario Quintana, o filme Conceição - autor bom é autor morto. De braçada em braçada mantive-me do lado de fora do bueiro dos irremediavelmente sós e cheguei à bilheteria onde, embora estivesse prestes a começarem os filmes - o outro era Os Simpsons - não havia fila, aliás só havia a bilheteira, com quem ainda comentei: - ué, está vazio, hoje! Comprei meu bilhete e fui levado pelo redemoínho de vácuo até a sala.

Entrei e tchãns - dois minutos para começar o filme e eu era o primeiro candidato a espectador. No apagar das luzes tornei-me o único diplomado espectador e cumpri este meu inusitado e repentino mandato até o final do filme. Sim, era o Universo que, revoltado por eu ter matado o Tempo, seu velho companheiro de folguedos e sacanagem, conspirava contra mim. Felizmente o filme, um besteirol tipo Casseta e Planeta misturado com Glauber e o Bandido da luz vermelha me manteve pendurado à tela, o que inexplicavelmente me livrou do solitário e escuro buraco que me puxava para baixo. Sobre o segundo filme eu conto depois, que agora tenho que ir ali e já volto.

Comentários

Cé S. disse…
Cara, que história ! =)

Rolou algo 1/2 parecido comigo: eu ia para a casa do meu pai no interior, vi o horário do ônibus na internet, fui até a rodô e somente lá descobri que aquele e outros horários haviam sido cancelados devido ao horário.

Ou seja, fui agraciado pela excelência do serviço público. Maravilha.

Acabei na Bienal -- a qual me pareceu bem... "minimalista".

Mais tarde tive mais sorte. Sair para pedalar e encontrei uns amigos na área de botecos.
José Elesbán disse…
Senhores, sugiro reuniões de blogueiros no bar do Nereu (que recentemente descobri que existe e não é criação fictícia do Jens), nos sábados à tarde.
Omar disse…
Grande Jean: fui e voltei cantando "mi buenos aires queridoooooo".
Abraço
Roy Frenkiel disse…
Hm... Buracos negros e cinema.

abraxao

RF
Jens disse…
Porra, dois filmes numa noite? Sai dessa solidão, camarada.
O Agenor, garçom do Nereu, está sempre a postos para ouvir os sonhos e lamentos dos corações solitários que vagam pela cidade nas tardes/noites domingueiras de Porto Alegre. Porém, se for teu desejo, posso te apresentar à Isolda, amiga da minha doce e prestativa vizinha Odaléia. É uma santa criatura.
Anônimo disse…
Cadê as 5 mulheres (6, contando a mãe) de tua vida, mano?
Tudo bem contigo?
Baita abraço meu
Anônimo disse…
Te cuida, Jean...
Vai ver de perto esse Bar do Nereu do Jens, e que o Zealfredo diz que é 'vero'. Depois me dá o endereço.
Baita abraço.
dade amorim disse…
Jean, estive aí na tua terra de passagem para Bento Gonçalves. Não entendo tanta solidão para o guapo proprietário de São Leopoldo, chê! Teu nome tá em todos os letreiros e negócios da cidade.
O mais engraçado é que fomos ao cinema numa sexta à tarde no shopping de Bento e só havia quatro espectadores - nós e outro casal lá na última fila. Gaúcho não gosta muito de cinema, é isso?
Beijo!