Veranico transgênico de maio

Sábado à tarde, uma caminhada pelo Centro de Porto Alegre, pagar prestações em duas lojas. A cidade está inchada de gente. Temos o dobro de compradores de ouro, cabelo e o que mais mesmo? Temos 10 vezes mais camelôs, pirateiros, artesãos, briqueadores de velharias e churrasquinho. Há uma opulência de gordura, bugigangas, pregadores com caixas de som, barrigas, ombros e bundas caidas. São ostensivas a indigência cultural, a dieta de cachorro-quente, as quinquilharias tecnotrônicas, a falsificação de produtos, esperanças, utilidades, prazeres. Há um desleixo de saco-cheio nos modos, no vestuário, nos olhares, nas conversas – sequer há pressa – para quê? Sequer há vontade – para onde?
Comprei carambolas e frutas-do-conde – essas ao menos ainda são autênticas - e meti-me em casa, fingindo um pouco de alívio da felicidade transgênica.

Carambolas e frutas-do-conde, foto de Jean Scharlau.

Comentários

Claudinha disse…
Que é isso, tá que nem o Schüller falando mal de Porto Alegre? :-)
Brincadeiras à parte, tem algum dado nessa equação que não fecha. Num país em que aumentou o índice da distribuição de renda, que milhares de brasileiros saem da pobreza, os índices de emprego formal sobem a cada mês, POA parece ter regredido. É visível o aumento: de moradores de rua, de crianças vagando em bandos sem destino, de vendedores ambulantes irregulares. Ou a grana federal para o desenvolvimento de políticas públicas não chega até os gaúchos, ou chega e os administradores não as aplicam. Tenho a sensação de que os albergues, por exemplo, que sempre funcionaram por meio de projetos financiados pelo dinheiro público, devem estar fechando as portas aos mais necessitados por falta de condições materiais. Ou seja, descaso total e silêncio cúmplice de quem tem culpa do que acontece nesta cidade...
José Elesbán disse…
Caro Jean,
Me parece que pela proximidade das culturas de transgênicos e de espécies exóticas, o teu grau inconformidade aumentou...
[]
Jean Scharlau disse…
A minha comparação pessoal acho que não é com há 4 anos, mas com há 20. O que disseste porém, Cláudia, é verdade - Porto Alegre vinha resistindo bem melhor ao processo de favelização do Brasil até bater o vento negro de fumaça por aqui. O município não faz mais nada - cada um que se vire com o que tem - os que não tem nada...
Zé, acho que chamo de transgênico também a transgeração, a transpolítica, a transreligião, a trans expectativa social e cultural, a trans expectativa ecológica, onde nos colocaram numa panela de pressão e a panela foi ao fogo.
Abraços.
Marconi Leal disse…
Jeanscha, quanto a uma coisa não resta a menor dúvida: tu não sabes escolher carambola.
dade amorim disse…
POA tá assim, é? Então a decadência não é só do Rio? Triste consolo. Às vezes desconfio de que estamos numa ditadura sorridente que alimenta uma cambada de bandidos no poder (salvo as honrosas exceções, você sabe). Uma ditadura que brinca de democracia, mas que da vontade do povo só tem mesmo os votos comprados, chantageados e um presidente que a gente botou lá sem saber bem com quem estava falando. Putz, que raio de país é esse?
Jean Scharlau disse…
Adelaide, a CGU constatou que 80% das contas dos municípios que analisou por amostragem tinham problemas (grande parte provável roubalheira). O caminho e o tempo da decomposição é longo, porém virou via expressa muito rápida no período FHDôso. E a grande maioria dos prefeitos se imiscui e são pelo povo perdoados de tudo e em maior parte do nada que costumam fazer e ser. Lula cometeu dois erros graves: juros altos e permitir transgênicos. Perto dele, porém, 95% dos que governam prefeituras e estados, são uma corja de pusilânimes e bandidos.
Jean Scharlau disse…
Ah, sim, o terceiro erro grave de Lula: é apolítico de comunicação para além do que já está aí, que ele inclusive stá reforçando.