Vila dos Confins, de Mário Palmério - 1956

Posted by Picasa Excelente livro. O autor, Mário Palmério, fundou três escolas de 2° grau em Minas e depois três faculdades, foi eleito deputado em 1950 e fundou mais algumas faculdades e um hospital em Uberaba - MG. No governo Jango foi nomeado embaixador no Paraguai. Por isto e seus dois livros, Vila dos Confins e Chapadão do Bugre, de 1965, é eleito para a ABL em 1968 na vaga de Guimarães Rosa.

Histórias de pescarias, caçadas, tropeadas, mas principalmente política. A trabalheira, a sujeira - as traições, as manhas, as falcatruas da política no Brasil, que ele descreve tim por tintim nos empenhos de um deputado em uma eleição para prefeito de um novo município com menos de 1000 eleitores. Narrativa boa, na 'língua' falada lá nos grotões de Minas, sem chatices nem pedantismos. Indicação certeira.

Comentário meu a um interessante artigo: "Importante e amplo este assunto, Cristóvão. Acho que um dos fatores fundamentais que engendraram a regra "o gozo aqui e agora seja por que meios for" é a desvalorização das estruturas sociais tradicionais, sem nada que as substitua, principalmente a desvalorização da estrutura familiar (com pai, mãe, tios, avós, primos, irmãos) que oferecia dois pilares à coesão social: a hierarquia, que sempre estabelece e faz cumprir regras, e a afetividade, que consolida a estrutura e a hierarquia e também dá a compensação - o sentimento de conforto, o qual por sua vez faz querer ser e estar ali. Na situação atual de frágeis, tênues e esparsos laços familiares, a criança, o adolescente, creio, tende a sentir-se jogado ao acaso ali naquele mundo cruel, indiferente, hedonista, falso e, sem linhas onde afirmar-se, reúne-se ao acaso das suas percepções e sentimentos nessas "neotribos", sejam as de aficcionados por jogos eletrônicos, as da internet, das academias, dos bailes funk, dos trios elétricos, do crime, das patricinhas, das igrejas universais, essas bizarras e violentas de classes médias (de que tratas no artigo), etc. Parece-me então que a principal "exclusão do sistema-mundo" que dá origem a essa "legião multitudinária" é a exclusão dos indivíduos da estrutura familiar coesa, sem nada que adequada e efetivamente a substitua. Assim, milhões de individuos jovens são lançados todo ano no vácuo dos idiotas e nocivos fetichismos e práticas neocapitalistas. Como não queremos ou não podemos mais ter a estrutura familiar tradicional, é urgente estudarmos e nos dedicarmos a criar outras formas viáveis, substitutivas e compensadoras de organização social, e isto deve ser atenção prioritária da sociedade civil organizada e institucional e ação urgente do Estado (e não do mercado). Um abraço. Jean Scharlau.

Comentários

Anônimo disse…
PQP, Jean, que bela dica. Muito bom o artigo do Cristovão (a quem conheci como aspirante a poeta, no Sindicato dos Bancários, nos anos 70 - perdão, papo de velho). Objetivando: concordo contigo: a falta da estrutura familiar é a grande responsável pelos descaminhos da juventude (nada como um envelhescente pra c*** regra). Acho que a falta do exemplo a ser seguido gera o sentimento de que vale tudo. Lembro de um conto de Dalton Trevisan em que o maior desejo do personagem era ser tão homem como o pai. Eu também, até, hoje, tento ser tão homem como o meu pai - acho que não conseguirei. Quando falo em ser homem não me refiro à valentia física ou coisa semelhante, mas, sobretudo, a coragem de encarar a vida e vencer obstáculos. Fui o primeiro da família a concluir o curso universitário (jornalismo, profissão que não dá dinheiro, mas o velho deu força - era o meu sonho). Meu pai pouco estudou, mas sabia o valor do ensino. Pouco lia, mas comprava livros para mim. Não acalentava nenhuma utopia, mas sempre estimulou as minhas (saiu prá colar cartazes comigo à noite, em 1982, quando concorri vereador). Família, famíla, família. Porra cara, me emocionei. Acho que não fui muito claro no que pretendia dizer. Sorry.
PS: Mariana, minha filha, vai ser a segunda a concluir a faculdade (jornalismo também, uma maldição de família). Acho que não estou fazendo feio. O velho, esteja onde estiver, deve estar contente.
Jean Scharlau disse…
Jens, foste iluminado e preciso no que querias dizer, ou ao menos no que eu nem sabia que queria ouvir, e fizeste muito mais fácil de entender aquilo que eu tentei dizer.

O Cristóvão está na minha lista de virtuais amigos aí à direita, onde publica suas opiniões sempre interessantes e inteligentes. E continua interessado em poesia.
Anônimo disse…
Sobre Mário Palmério e seus colégios e faculdades, nada sei. Sei que Vila dos Confins, embora não seja um bom livro, do ponto de vista do meu gosto por literatura, é uma contundente crítica aos métodos eleitorais do Brasil. Já Chapadão do Bugre, é um dos melhores livros que já. digno de Guimarães Rosa.
Araken Vas Galvão