JANGO = um filme fundamental

Impedível documentário, de Sílvio Tendler, bem como Os anos JK, de que falo abaixo. Assisti agora à tarde, também no Canal Brasil da TV paga. Lançado em 1984, mostra a trajetória política de João Goulart, e do Brasil no período, até sua morte no exílio nos anos 70. Depoimento de várias personalidades que fizeram sua parte na história daqueles anos e dos que seguiram. Celso Furtado, que foi ministro do Planejamento de Jango, identifica o marco do início de sua, e nossa, queda. Havia dois grandes grupos que formavam o governo e disputavam a opção de Jango por seus métodos. Um grupo era aquele que Celso Furtado integrava e que queria que o governo primeiro encetasse ações para o desenvolvimento e segurança econômica, que entre outros objetivos baixassem a inflação que estava em 100% ao ano, para só então implementar com efetividade as chamadas reformas básicas, ou de base. O segundo grupo queria que o presidente encaminhasse imediatamente essas reformas. Jango optou por esta segunda receita. Um ano depois era deposto, honrosamente, sem permitir que se derramasse sangue em sua defesa, tendo buscado o bem e a justiça – um grande homem, correto, íntegro e fiel a seus princípios, mas que infelizmente não soube entender o que estava acontecendo e ingenuamente protagonizou a estréia de uma grande tragédia para o povo brasileiro, principalmente para aqueles que satisfez um ano antes ao optar por realizar imediatamente suas reivindicações.

Aqui eclode a olhos nus uma ciência simples, extremamente verdadeira e de fácil entendimento. É mais fácil socializar a riqueza nova e muito difícil socializar a riqueza velha, porque a riqueza velha já tem nome e sobrenome, marcado a ferro quente, carimbo e história, em várias sucessões, com suas lutas, glórias ou inglórias, seu folclore, suas manhas e seus pagos defensores. A riqueza nova, não! A riqueza nova brota ali sem tão arraigados e arreganhados dentes a defendê-la. A riqueza nova, quanto mais e melhor venha, mais fácil é distribuí-la, pois é mais pertinente aos que a criam reivindicá-la no momento mesmo em que ela brota. Acho que é por isto que agora quase todas as categorias negociaram reajustes salariais acima da inflação, pois a economia brasileira, exceto a do Rio Grande do Sul, cresce, e este ano possivelmente mais que a inflação também.

Agora, será que é preciso nos questionarmos longamente para descobrir qual foi a opção de Lula? Lula=PT fez a opção que fora recomendada a Jango por Celso Furtado. Lula=PT fez a escolha oposta à de Jango e que é, e era também naquela vez, o caminho do meio. Com isto Lula frustra dois grupos, a direita da direita e a esquerda da esquerda. Para o bem desses mesmos grupos e a felicidade geral da Nação, pois o desenvolvimento econômico seguro, ou sustentável – como queiram, está posto, solidamente há já 3 anos e meio.

Agora brindemos ao eventual segundo mandato. - Saúde! ... Educação! ... Moradia! ... Emprego! ... Soberania!

Comentários

Anônimo disse…
De novo: tô nessa, brindando junto. Salut!
Serjão disse…
Eventual?
Não seja modesto;
mas granto que não vai ter nada disso. Se tiver menos mensalão, dólar em cueca, caixa dois já me dou por satisfeito.
E quanto ao filme ainda não vi. Assisti na GNT um seriado sobre JK que pareceu interessante. O engraçado é que parece com Lula exceto na parte econômica. Lula seguindo a política econômica anterior e sem turbulências internacionais fez o arroz com feijão sem sustos. Este mérito ele e Palocci têm. Já JK guase quebou o país que sofre até hoje os efeitos de seus devaneios. Mas era carismático, como Lula, e passou à história como estadista, como Lula vai passar apesar dos casos de corrupção. São dois tipos de sujeitos que geram fanatismo e não análises isentas. basta ver o PT como vai mal em todo lugar. E pode chover canivete que Lula não é atingido. Só queria ver ele, JK, admisnistrar a sua casa como administrou o país. Passaria fome.
Anônimo disse…
Concordo. Fundamental, meu prezado Xarlô (como se pronuncia, não?). O ponto alto é o Lacerda, num inglês escorreito, se queixando pro JFK. Que lambedor de saco, meu? E tudo continua como dantes, a burguesia se orienta (não, não é pelo Oriente) é pelo irmão do Norte (se norteia). Só que os EUA tem outros lugares com que se preocupar.
Abraço, Xarlô!
Cristóvão (www.diariogauche.zip.net)