O PODER EMANA DO POVO

E MANDA E MOLDA O POVO

Jean Scharlau

O povo brasileiro mais pobre, que é a maioria desde que há Brasil, tem sido prensado contra o barranco, empurrado ao precipício, ou simplesmente deixado à própria sorte (com raros intervalos). Sempre soube também esse povo, que os políticos metem mesmo a mão como se a boa parte fôra deles, e até fica parecendo que é direito adquirido. Assim, esse povo mais pobre também foi dando jeito de dar seus pobres jeitinhos para sobreviver (ou viver um pouquinho melhor) e outras coisas que degringolam para pior.

Sonegação (não emitir e não pedir nota fiscal, de comum acordo) contrabando (ir buscar ou encomendar do Paraguai, dos EUA) jogo (bicho, carteado, não os do governo) prostituição (quem vende e quem compra o serviço), tráfico (quem vende e quem compra) roubo (a bancos - admirados, e os pequenos roubos como o de toca fitas, são apoiados pelos que compram sabendo que é roubado) suborno (quem cobra e quem paga, sim porque no caso dos pobres o subornável geralmente cobra o suborno) pirataria (há cidades inteiras no Brasil organizadas para produzir artigos piratas) pistoleiros (comuns no nordeste, centro e norte, mas presentes também no sudeste e sul) aborto (feito clandestinamente por médicos em troca de...Dinheiro - das jovens, seus parceiros e família) crimes passionais e por vingança (quase aceitos como justificáveis) acidentes automobilísticos e de trabalho (a maioria ocorrida por descumprimento de cuidados e normas, portanto culposa) colar nas provas, invasão e grilagem, venda de produtos c/prazo vencido ou proibidos, roubar no troco, roubar do caixa, dar o golpe do bau e golpe no sócio, agredir a mulher e os filhos, beber demais, vagabundear às custas dos outros, fazer cabrito no trabalho, separar algum do condomínio, vender gato por lebre, furar a fila ...
Há mais, mas paremos aqui. É claro que embora praticando, sendo conivente, complacente, vítima, prejudicado, beneficiado, ou apenas tendo conhecimento sobre a maioria desses crimes e contravenções, as pessoas esperam melhorar, esperam (talvez por imaginá-los melhores) que os que comandam o façam primeiro - o mito/generalização do rico-honesto-digno-feliz. Ora, somos todos o mesmo povo, e todos já incursionamos na lista que fiz acima, como autor, vítima ou testemunha.

O que não dá pra aguentar é que as sujíssimas empresas de mídia (tele showrnal, rádio showrnal, showrnal de revista) e a escória política venham com sua empáfia, bater todos os dias nos nossos ouvidos a tecla do clamor pela moralização, como se fossem eles a vanguarda da melhoria da raça. Não, isto não podemos aturar. São criminosos muito maiores, agora cometendo mais um crime, o de enganar-nos de novo e com tal ousadia que querem passar por bons ao chutar quem caiu no atalho que eles mesmos usam há décadas (e que é só o menor de seus crimes). Chicote neles!

(Deixei o texto acima como comentário a artigo da socióloga Maria Lucia Victor Barbosa, no blog Alerta Total, do jornalista Jorge Serrão, que resolveu publicá-lo na página. Obrigado, Jorge. Complemento, a seguir, o texto).

NÃO SOMOS MELHOR POVO, mas hitoricamente temos AGIDO MELHOR que esses que aí estão a bradar e brandir vitupérios contra TODOS NÓS (usando o fato de que alguns dentre nós erraram e foram pegos no erro - erro em que esses outros fizeram escola). DEFENDO A PUNIÇÃO de TODOS que erraram, DE TODOS OS PARTIDOS e em especial a expulsão do PT, partido ao qual sou filiado, dos que erraram DE DENTRO DO NOSSO PARTIDO.

NÃO SOMOS MELHOR POVO, repito, e foi comprovado e admitido publicamente por nós que houve erros, mas evidentemente NÃO SOMOS PIOR. Façam-se as devidas comparações e constatações. Repito novamente - EXPULSÃO DA VIDA PÚBLICA para os que erraram - e para isto contamos com três instâncias legítimas - os partidos, os poderes constituídos (imprensa, executivo, legislativo e judiciário) e diretamente o próprio povo, nas eleições. Se a primeira e segunda instância falharem no cumprimento do dever, ainda há a terceira que cabe diretamente a nós, eleitores.

Meu pai, Helmy Edgar Scharlau (hoje completa-se um ano de sua morte - que Deus resplandeça sobre ele Sua face - era protestante e converteu-se ao catolicismo para casar com minha mãe, que estudava para freira no Ginásio Nossa Senhora dos Navegantes, em Porto Alegre ) dizia que políticos eram todos iguais, no que eu sempre discordava dele e do que continuo discordando. Ele era um brasileiro, um alemãozão de 2 metros de altura por 1 de largura, que aos seis anos de idade vinha para a cidade de carreta, sozinho, vender os produtos da chácara de meus avós, sempre trabalhou 16 horas por dia, como minha mãe também fazia e faz.
Desde que, lá por 1976, eu comecei a me interessar por política - a administração terrena das riquezas, fardos e caminhos do povo - e lá por 1979 a ajudar a construir o PT, ele fazia questão de repetir sobre os políticos - são todos iguais, cada vez que ouvia a notícia de alguma falcatrua, ou notava alguma maladragem disfarçada. Mas costumava ressalvar o grande benefício que Brizola havia feito ao construir milhares de escolas por todo o Rio Grande do Sul, e parava para escutar o que Olívio Dutra tinha a dizer, e o apreciava.

Comentários

Anônimo disse…
La segunda fundación de Bolivia

Por Eduardo Galeano

El 22 de enero del año 2002, Evo fue expulsado del Paraíso.O sea: el diputado Morales fue echado del Parlamento. El 22 de enero del año 2006, en ese mismo lugar de pomposo aspecto, Evo Morales fue consagrado presidente de Bolivia.
O sea: Bolivia empieza a enterarse de que es un país de mayoría indígena.

Cuando la expulsión, un diputado indio era más raro que perro verde.
Cuatro años después, son muchos los legisladores que mascan coca,
milenaria costumbre que estaba prohibida en el sagrado recinto
parlamentario.

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Mucho antes de la expulsión de Evo, ya los suyos, los indígenas,
habían sido expulsados de la nación oficial. No eran hijos de Bolivia: eran no más que su mano de obra. Hasta hace poco más de medio siglo, los indios no podían votar ni caminar por las veredas de las ciudades.

Con toda razón, Evo ha dicho, en su primer discurso presidencial, que los indios no fueron invitados, en 1825, a la fundación de Bolivia. Esa es también la historia de toda América, incluyendo a los Estados
Unidos. Nuestras naciones nacieron mentidas. La independencia de los
países americanos fue desde el principio usurpada por una muy
minoritaria minoría. Todas las primeras Constituciones, sin excepción, dejaron afuera a las mujeres, a los indios, a los negros y a los pobres en general.
La elección de Evo Morales es, al menos en este sentido, equivalente a la elección de Michelle Bachelet. Evo y Eva. Por primera vez un indígena presidente en Bolivia, por primera vez una mujer presidente en Chile. Y lo mismo se podría decir del Brasil, donde por primera vez es negro el ministro de Cultura. ¿Acaso no tiene raíces africanas la cultura que ha salvado al Brasil de la tristeza?
En estas tierras, enfermas de racismo y de machismo, no faltará quien crea que todo esto es un escándalo. Escandaloso es que no haya ocurrido antes.

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Cae la máscara, la cara asoma, y la tormenta arrecia. El único lenguaje digno de fe es el nacido de la necesidad de decir. El más grave defecto de Evo consiste en que la gente le cree, porque
trasmite autenticidad hasta cuando hablando castellano, que no es su
lengua de origen, comete algún errorcito. Lo acusan de ignorancia los doctores que ejercen la maestría de ser ecos de voces ajenas. Los vendedores de promesas lo acusan de demagogia. Lo acusan de caudillismo los que en América impusieron un Dios único, un rey único y una verdad única. Y tiemblan de pánico los asesinos de indios, temerosos de que sus víctimas sean como ellos.

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Bolivia parecía ser no más que el seudónimo de los que en Bolivia
mandaban, y que la exprimían mientras cantaban el himno. Y la
humillación de los indios, hecha costumbre, parecía un destino.
Pero en los últimos tiempos, meses, años, este país vivía en perpetuo estado de insurrección popular. Ese proceso de continuos alzamientos, que dejó un reguero de muertos, culminó con la guerra del gas, pero venía de antes. Venía de antes y siguió después, hasta la elección de Evo contra viento y marea. Con el gas boliviano se estaba repitiendo
una antigua historia de tesoros robados a lo largo de más de cuatro
siglos, desde mediados del siglo dieciséis: la plata de Potosí dejó una montaña vacía, el salitre de la costa del Pacífico dejó un mapa sin mar, el estaño de Oruro dejó una multitud de viudas. Eso, y sólo eso, dejaron.

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Las puebladas de estos últimos años fueron acribilladas a balazos,
pero evitaron que el gas se evaporara en manos ajenas,
desprivatizaron el agua en Cochabamba y La Paz, voltearon gobiernos gobernados desde afuera,
y dijeron no al impuesto al salario y a otras sabias órdenes del Fondo Monetario Internacional.
Desde el punto de vista de los medios civilizados de comunicación,
esas explosiones de dignidad popular fueron actos de barbarie. Mil veces lo he visto, leído, escuchado: Bolivia es un país
incomprensible, ingobernable, intratable, inviable. Los periodistas que lo dicen y lo repiten se equivocan de in: deberían confesar que
Bolivia es, para ellos, un país invisible.

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Nada tiene de raro. Esa ceguera no es solamente una mala costumbre de
extranjeros arrogantes. Bolivia nació ciega de sí, porque el racismo echa telarañas en los ojos, y por cierto que no faltan los bolivianos que prefieren verse con los ojos que los desprecian.
Pero por algo será que la bandera indígena de los Andes rinde homenaje a la diversidad del mundo. Según la tradición, es una bandera nacida del encuentro del arcoiris hembra con el arcoiris macho. Y este arcoiris de la tierra, que en lengua nativa se llama tejido de la sangre que flamea, tiene más colores que el arcoiris del cielo.
Santa disse…
Jean ,
O meu blog está com problemas. Os posts não fixam,os comentários não publicam na cx. Todos demais comentários estão presos no meu e-mail. Alguém tem o bendito endereço do SUPORTE BLOGGER??

Socorrrrrooooooo!!!

Ps: depois volto para comentar seu post.

Bjs
Moita disse…
Jean

O Araken quase não deixou espaço pra os nossos comentários.Tudo bem.
Voce está certo quando pede punição pros culpados.

O problema que não aparecem e nem se descobrem os culpados. Impunidade.

Não é só agora, não. No Brasil nunca se puniu.

O juiz Lalau ta morando na mansão que ele roubou, e ainda tem seguranças. Prisão domiciliar. Desigualdade.

Algum brasileiro de qualquer época, já viu favelado em prisão domiciliar?

Voce foi tão bem até o Brizola, aí inventou de botar o Olívio no meio, ainda bem que foi na ultima frase. rsssssssss.

Ta bom se não vou virar o Araken.

Ah! Acho que vc não leu o post "Ser feio não é bom", la na moita. Leu?

um abraço, do amigo Moita
Anônimo disse…
Caro Jean,

vale compartilhar o cansaço que estamos desta direita estúpida e senil (como um dia disse Zé Geraldo), desta imprensa medíocre e que posa de independente. Mas mais cansado ainda estou dos profissionais de imprensa que se submetem a este jogo onde só vale o interesse de seus patrões e não conseguem enxergar que são peças descartáveis, substituíveis do jogo. Este cansaço é pior se observarmos a esquerdalha oportunista (os nominados radicais - bonito né, pela mesma imprensa), que acha lindo detonar qualquer possibilidade do primeiro governo com participação popular da história deste país (apesar de João Goulart e Getúlio Vargas) e acha mais bonito ainda servir de bucha de canhão para o Jorge Bourhaunsen, ACM (que bonito o ACM chamar os petistas de ladrões), Artur Virgílio, FHC y otros más (que só podem ser o grande exemplo de civilidade que este país tem). Aí chegamos ao limite do cansaço quando vemos a tal classe média entusiasmadíssima com as obras de ficção criadas por Veja e companhia (e agora? Será que darão o mesmo espaço para Serra, Alckmin e Cia que deram para os petistas acusados de corrupção?)

Abraços

Nilton Bobato

Foz do Iguaçu, por emeil
Moita disse…
Jean
Eu quase me engasgo de rir, lendo
a sua descrição da feiura brasileira. Como é!! "unha verde" rsssssssssssssss. Shit ! ai.

Voce ta certo. tudo que voce comentou do começo ao fim.

Um abraço
Santa disse…
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Santa disse…
Jean,
Quando estimulei que criasse seu próprio blog, pensei que seria interessante ter onde ler , de forma independente, textos produzidos (autoral) por você. Seus artigos, geralmente, parecem menos comprometido com a cor partidária e suicida do PT. Mas vc preferiu manter um blog na defesa do partido, e da imprensa feita pela Carta Maior, Carta capital, entre outras.... É uma pena! Alguns artigos seus são infinitamente melhores do que Lula e a mídia pelega.
Bjs
Serjão disse…
Jean: Que bom que vc gostou da trip. Deu um certo trabalho. Foram posts muito longos.
Quando uma denúncia é vazia ele não se sustenta. No PT, pelo contrário, cairam do goleiro ao ponta esquerda. "Nunca antes na história deste país" como diz o nosso guia se viu um esquema de corrupção tão escancarado. Claro que há exageros e não é de todo inédito a não ser pelo tamanho e pela coisa ser estrutural. Foi feita para ser assim e por muito tempo.
Discordo da Santa. Defenda o que vc achar que deve defender.
Lamento pela morte de seu pai. Tenho a certeza que ele está do lado do pai a te proteger.
Um forte abraço.
Serjão disse…
Em tempo: Não sou seu inimigo. E vc sabe disso.
Jean Scharlau disse…
Caro Serjão, grato pela fé no Pai em relação a meu pai.
Curioso - logo que li teu comentário, e antes de ler o recente texto em teu blog, pensei em responder-te que não me importo com futebol, biriba, porrinha (tampouco com moda e artes plásticas) e tendo assim restrito o campo de minhas `paixões`, é restrito também o espaço no banco de adversários, no qual entretanto espero que estejas confortável (pero no mucho). Digo-te, e direi também à Santa, que no meu modo de ver as coisas, adversários bem que podem ser amigos. Inimigo, claro, é outra história - não costumo freqüentá-los. Há porém que se ter certos cuidados, para não transformar os adversários em inimigos, como tão bem explicaste lá no teu texto. Um abraço. Jean.