O PIPOQUEIRO GANANCIOSO E OS LIVREIROS ESPERTOS

Era uma vez um pipoqueiro que planejou ganhar muito dinheiro com seu carrinho de pipoca nos corredores da Feira do Livro de Porto Alegre, isto lá pelo início do século, no ano de 2005, se não me engano. A Feira já naquela época tinha bastante movimento e estava então recém em sua 51ª edição, vejam só!

Pois o pipoqueiro fez seus cálculos de quanto pretendia ganhar, multiplicou por cinco e lá se foi à Feira. Embora ele gastasse 30 centavos para encher um saquinho de pipocas, resolveu que venderia cada saquinho por três reais (real era chamado o dinheiro da época e havia até uma nobreza deputada que imperava no Brasil) . O pipoqueiro, segundo seus próprios cálculos, garantiria assim a renda para três meses, vendendo imensamente em meio àquele movimento medonho de intelectuais, estudantes e professores, todos endinheirados e muito esbanjadores, como costumavam ser todas as pessoas naquela época. Pelo menos deve ter sido esta a impressão do pipoqueiro, para cobrar pelo saquinho de pipoca dez vezes o seu custo.

Ocorre que nas Feiras daqueles tempos grande parte das barracas era de sebos, como eles chamavam as lojas de livros usados. – Como? – Ah, exato. Barracas. Eram casinhas feitas de madeira – aquele material que nós vimos outro dia no museu e era do tempo em que se permitia que cortassem árvores. Bem, pois onde o pipoqueiro estacionasse sua carrocinha haveria por perto uma barraca de sebo vendendo livros a 5, 3, 2 e até a 1 real. Sendo assim, o pipoqueiro pretendia vender um saquinho de pipocas pelo preço de um, dois, ou até de três livros. Conta-se que ele passou todo o tempo sentado ao lado de seu carrinho, sem vender quase nenhum saco de pipocas.

Já os vendedores de livros usados, e também os de livros novos que não praticaram preços de pipoqueiro ganancioso, venderam muitos e muitos livros...

A maioria dos livreiros e editores, entretanto, era tão esperta quanto o pipoqueiro, e todos sabemos, a esperteza freqüentemente acontece de ser burra, pois só consegue planejar o próximo passo e não o caminho. Assim é que, por causa dos preços quintuplicados que cobrava também a maioria dos fabricantes e vendedores de livros, o povo daquela época, ao longo dos anos, foi deixando de comprar livros, perdendo inclusive o hábito da leitura, e também o de comprar pipoca na rua (que, todos sabemos, é a mais gostosa), de formas que quanto mais diminuía a freguesia, mais esses vendedores espertos aumentavam os preços, para “compensar”....

Vejam então, crianças, a ironia da coisa – os gananciosos, a longo prazo, conseguiram foi, um poupar papel e o outro poupar milho. Mas o que eles queriam mesmo – muito dinheiro todos os anos – isto não conseguiram.

Felizmente foi por essa época que surgiu a BIBLIOTECA LIVRE, assim mesmo como vocês a conhecem hoje, só que em escala muito menor. Não eram todos que a usavam, como hoje, pois inicialmente poucos a conheciam (uma curiosidade – na época os livros eram feitos de papel, um material obtido também do abate de árvores).

Bom, o sistema da BIBLIOTECA LIVRE com o tempo fez as pessoas voltarem a ter o hábito e o apreço pela leitura, a se informarem, preservarem sua cultura, a se tornarem mais organizadas socialmente e mais exigentes em todas as áreas e eu pessoalmente acredito que a BIBLIOTECA teve também muita influência em que tenhamos conseguido superar aquela grande crise do eco-sistema que ocorreu na metade do século e a definir a nova organização social a partir daí.

Tenho como certo que se a maior parte do povo fosse ignorante como o era no início do século enfrentaríamos uma catástrofe social que nos aniquilaria, e os que eventualmente sobrevivessem subsistiriam na barbárie e nas trevas. Felizmente não foi isto o que aconteceu, pois nos 30 - 40 anos que precederam a catástrofe ecológica o povo conseguiu reverter a curva descendente em que despencava seu intelecto, e chegou a um bom nível intelectual e cultural que permitiu-nos a graça de estar contando e ouvindo esta história aqui, hoje.

Agora podem sair para o recreio e em uma hora voltem para a aula de telepatia e levitação.

Jean Scharlau Neto, Porto Alegre, dezembro de 2099.

Conheça e saiba como ser um pioneiro fundador da BIBLIOTECA LIVRE, aqui>>>> biliv.blogspot.com

Comentários

Santa disse…
ADOOOOOOORRRRRROOOOOOOOO, suas histórias de feiras de livro...rs. Sou meio rato de feira também!

Bjs


PS:Vou repetir, escreves muito bem.
Lucimar Justino disse…
Caro amigo,

publiquei um texto sobre teu projeto e linkei a Biblioteca Livre em meu blog. Obrigado pela visita e aquele abraço!!!
Santa disse…
Que excelente humor nos seus comentários lá na Santa, ri muito...Bjs.
Santa disse…
Faz um selinho da BV, no meu blog não consigo publicar flash.

Bjs
douglas D. disse…
espaço instigante!
SV disse…
Amigos da blogosfera!

Estou com um novo blog com cara de conto, escrito a conta gotas.

Espero que gostem!

www.antesqueanoiteca.blogspot.com

Abraços a todos!
Anônimo disse…
Prezado aluno...19 (ou seria 18 ?).
Esta é minha primeira participação aqui, embora volta-e-meia leia alguns textos.

Eles - textos - continuam bons (alguns ótimos, outros longos). Vá em frente.

Um abraço a você e aos leitores/comentaristas (dentre eles, dois primos meus).
Toque das ruas disse…
Vi um comentário seu no Blog da Santa, sobre a biblioteca. Visite meu blog e deixe uma mensagem sobre lá. Um abraço.
Anônimo disse…
Jean, Jean. Eu não sei ao certo o que eu poderia escrever para dizer o quanto esse projeto é belo e rico. Gostaria tanto de ser a professora que tu disseste aí no post. É grandioso, faltam apenas algumas pessoas entenderem e abraçarem essa idéia! Abraços. Volto depois.
Joel S disse…
Gostei dos textos. Parabéns pelo blog e dá uma passadinha lá no www.jocablogs.blogspot.com , ou blog do joca.
Abração.
PS: Cara, é raro encontrar gaúcho. Também sou mas meus contatos de blog são quase todos de fora do Estado.
Passando por aqui...


Abraços do CC.
Lucimar Justino disse…
Caro Jean,

valeu, espero que me apareça alguma proposta sim. E vamos que vamos com essa Biblioteca Livre. Fiquei feliz pela nota no Jornal do Brasil. E a cada dia mais membros no orkut. Maravilha!!! Vou divulgar a idéia noutros sites, jornais. Realmente a internet é um meio muito bom pra essa divulgação. Ah, também vou divulgar para meus amigos do orkut.

Abração!!!
Oi amigão gaúcho, estamos contando Histórias da Lata (03). Vá lá no blog.

Um abraço e boa semana
Santa disse…
Uma pergunta que não quer calar. Não visita mais os pobres porque??? Adoro seus comentários, os prós, os contras, os amenos (carinhosos)...
beijos
Santa disse…
Vc provocou o maior bafafá do século. Isso porque ninguém sabe que vc é jornalista. (Vai entrar pra lista do Mainardi). Tem lá o lado saudável, do debate, das idéias,...o blog está aberto é claro. Tem também o lado chato, mas isso fica pra o post da Marilena , que se expõe em querer defender o indefensável,com argumentos (emprestados) é demais ...Até parece conteúdo ideológico dos discursos de Lula, em palanque montado pelo Ciro e o pelo cerimonial da presidencia. Né?

Beijos.
Maria Oliveira disse…
Oiiiiiiiiii, Jeam
Ainda estou viva!!!! :))))