Põe Poema

Bis

Eu,
pequena multidão,
aplaudo teu grupo de danças.


Arqueologia Íntima

E assim fui morrendo
centenas
milhares de vezes
Minha foto enferrujou
e ninguém
nem eu
nunca mais soube de mim

Cada um, porém
sabe quem não sou


Canta-me

Que nos achegue a paciência da rede
a vocação do encontro
o gosto do beijo
Que nos acorde o sono
e o sonho navegue
e partamos ao longe de dentro
Que nos voltem estradas
em curvas floridas
Que nos assustem as amadas
com suas breves partidas
Que nos venha a noite
em furo de estrelas
Que atravessemos
a vau da lua
o segredo dos dias
Que saibamos sempre
o saber ser corpo
que ama a luz e assombra
corpo que em sombra
escura e fria
aquece, brilha, viceja


Teledramaturgia Rural

Uma vez comprei uma cabrita.
Foi assim que começou errado nosso relacionamento.
Um dia a cabrita fugiu trepando aos montes.
Houve coincidentemente uma fenomenal queda na bolsa.
Perdi todo meu investimento, ganhei experiência e, na miséria, dediquei-me a polir cornos por dois anos.
Depois veio aquele longo tempo de chuvas que dissolveu cornos e montes.
Minha ex-minha cabrita voltou falando tantas coisas, e tinha uma expressão tão linda no olhar...
Isto me deu uma vontade enorme!
E eu saí por aí pastando a grama verde...
Da cabrita nunca mais ouvi falar.

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