A maioria já abdicou das prerrogativas de cidadã(o) em troca das de tornar-se e manter-se consumidor(a). Ser cidadão é chato, e não rende. Não dá a compensação imediata que ser consumidor nos proporciona. Ser cidadão é uma postura idealista, quando não xiita. Já ser consumidor é pragmático. A contrapartida ao cidadão xiita é o consumidor compulsivo. A maioria que abandonou o cidadanismo em troca da consumania, ou trocou a cidadania pelo consumismo, advoga que cidadania é uma coisa cujo extremo é o fanatismo, enquanto o extremo do consumismo é o vício, ou seja, consumismo é uma coisa tão gostosa que vicia, além disso tem a vantagem de que não requer nenhuma crença nem elaboração intelectual, bastando a ciência daquela meia dúzia de regrinhas de ouro do “bom e velho” comércio, que podem ser resumidas a basicamente duas: 1 – tire o seu da reta e 2 – não se preocupe, alguém sempre deixa na reta, isto é natural (aproveite).
Já a cidadania, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro! É um intrincamento de regras, abstrações, suposições, expectativas, subjetividades, exercícios intelectuais, morais e físicos, sofrimentos, preocupações, conversas e trabalho, muito trabalho além daquele necessário ao consumo. Ser cidadão é basicamente ser chato consigo mesmo e com os outros, pois em vez de dedicar-se a consumir tranqüilamente a porção hedonista que lhe cabe, o carinha dedica-se a ficar percebendo, analisando, pensando, freqüentemente argumentando, eventualmente discutindo e militantemente agindo, reagindo e reivindicando coisas que muitas vezes sequer têm a ver consigo ou com a sua situação. Se fosse possível resumir o intrincado de regras da cidadania em duas elas seriam as seguintes: 1 – tire o seu da reta e 2 – garanta, na medida do possível, que ninguém deixe na reta.
Isto para o cidadão normal. Para o cidadão xiita, uma regra só: 1 – garanta, com todas as medidas, inclusive a do impossível, que ninguém deixe na reta.
Claro que essa superdosagem auto-prescrita pelo cidadão xiita o faz sofrer uma reação adversa e causa um efeito colateral no corpo social. O efeito colateral é a geração de repulsa à causa cidadã por parte daqueles que não simpatizam com fanatismos e a reação adversa no próprio (im)paciente é que tamanha demanda por tirar o de todo mundo da reta muitas vezes faz ele esquecer o dele lá.
Em época de extrema valorização do prazer, do conforto e da satisfação imediata, cidadania faz parte de um ideário fadado ao soterramento pelo desbarrancar da história devido às chuvas do consumo. Não há construção suficientemente fundada, nem árvore bastante enraizada que resista a essa avalanche de lodo que faz o aplainamento das encostas, que arrasta do ápice o ser social estruturado e estruturante (coisa demais de complicada) para o bacião homogêneo e bem menos esquisito onde todos tornam-se simplesmente sujeitobjetos. O consumismo é um padrão de comportamento deveras bem simplificante, fácil de entender e seguir. É só descer junto com a enxurrada. Já a cidadania, na prática é um tipo de comportamento que tem que resistir à enxurrada – troço difícil, trabalhoso e desconfortável, e antipático.
(Pretendo dar seqüência a este texto,
a não ser que eventualmente eu prefira ir ao shopping).
Já a cidadania, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro! É um intrincamento de regras, abstrações, suposições, expectativas, subjetividades, exercícios intelectuais, morais e físicos, sofrimentos, preocupações, conversas e trabalho, muito trabalho além daquele necessário ao consumo. Ser cidadão é basicamente ser chato consigo mesmo e com os outros, pois em vez de dedicar-se a consumir tranqüilamente a porção hedonista que lhe cabe, o carinha dedica-se a ficar percebendo, analisando, pensando, freqüentemente argumentando, eventualmente discutindo e militantemente agindo, reagindo e reivindicando coisas que muitas vezes sequer têm a ver consigo ou com a sua situação. Se fosse possível resumir o intrincado de regras da cidadania em duas elas seriam as seguintes: 1 – tire o seu da reta e 2 – garanta, na medida do possível, que ninguém deixe na reta.
Isto para o cidadão normal. Para o cidadão xiita, uma regra só: 1 – garanta, com todas as medidas, inclusive a do impossível, que ninguém deixe na reta.
Claro que essa superdosagem auto-prescrita pelo cidadão xiita o faz sofrer uma reação adversa e causa um efeito colateral no corpo social. O efeito colateral é a geração de repulsa à causa cidadã por parte daqueles que não simpatizam com fanatismos e a reação adversa no próprio (im)paciente é que tamanha demanda por tirar o de todo mundo da reta muitas vezes faz ele esquecer o dele lá.
Em época de extrema valorização do prazer, do conforto e da satisfação imediata, cidadania faz parte de um ideário fadado ao soterramento pelo desbarrancar da história devido às chuvas do consumo. Não há construção suficientemente fundada, nem árvore bastante enraizada que resista a essa avalanche de lodo que faz o aplainamento das encostas, que arrasta do ápice o ser social estruturado e estruturante (coisa demais de complicada) para o bacião homogêneo e bem menos esquisito onde todos tornam-se simplesmente sujeitobjetos. O consumismo é um padrão de comportamento deveras bem simplificante, fácil de entender e seguir. É só descer junto com a enxurrada. Já a cidadania, na prática é um tipo de comportamento que tem que resistir à enxurrada – troço difícil, trabalhoso e desconfortável, e antipático.
(Pretendo dar seqüência a este texto,
a não ser que eventualmente eu prefira ir ao shopping).
Comentários
De fato é mais confortável seguir a maré. Mas é preciso remar contra a corrente, em nome dos valores mais nobres da civilização - liberdade, igualdade e fraternidade. A merda é que, por enquanto, os bárbaros estão vencendo.
Um abraço.
Mesmo correndo o risco de parecermos ecochatos, xiitas, ultrapassados e outros adjetivos com o intuito de nos depreciar precisamos nadar contra a maré. Me nego a aceitar o pensamento único e prefiro lutar até o fim a ser cúmplice da desfaçatez, da demagogia, da ignorância, da estupides. Abraços
Abrs.
PS:Vc tem que corrigir o crédito da foto acima. :)
Abraço!
Jens, Job, saludos!
Vai ao shoping (bravura chatérrima) que é mais aconselhável, antes que os sunitas ponham uma bomba em baixo do teu carro. Se o fizerem em momentos solitários, quando não estás a bordo do mesmo, então é até um ato de poupança para a natureza, já que o calhambeque em questão é mais poluidor do que
peidos de suinos e bovinos de todo o Glorioso Estado do Rio Grande do Sul e de Valença na Bahia, Condado do Altaneiro Marquês Vaz Galvão. Outrossim ( vai te preparando para o outro não, que será devastador...) tirar o nosso da reta, é mais fácil dizer do que fazer, principalmente quando todas as equações do Tio Aécio dizem que em 2010 ele será o Pagé deste povo Tupiniquim!
Não meu caro Scharlau, dedica-te à cartomancia e às cartas de Tarôt ( eu já estou conjeturando uma viagem só de ida para a Ilha de Páscoa ) quae sera tamen!
Ave Scharlau, morituri te salutam!
João de Manaus