Paranormalidade e irrealidade cotidiana

Já me surpreendi algumas vezes com minha mulher falando de mim com suas amigas como se eu não estivesse presente. Quando falo, ela toma um susto e reage sem jeito: - ah, não tinha visto que tu estavas aí. Suas amigas também me olham com a mesma expressão de ter visto uma aparição.

Na rua, tem sido cada vez mais freqüente que as pessoas não dêem espaço para que eu passe, não desviem o trajeto de sua caminhada, como se não me vissem. Então eu tenho que fazer guinadas rápidas para evitar ser trombado.

Ao passar em frente às fachadas envidraçadas dos prédios noto que em vez do meu reflexo está lá uma imagem borrada, uma silhueta apenas, que não consigo identificar exatamente com quem se parece, mas não parece comigo, às vezes sequer parece uma pessoa.

Já tive, em vários momentos que chamar a atenção de pessoas que iam sentar em meu colo nos ônibus e no trem.

Em bares e restaurantes não consigo ser atendido se não chamar o garçom e de vez em quando tenho que repetir o pedido, ou me levantar e ir até o balcão reclamar da demora do serviço. Algumas vezes me respondem que não me viram mais e acharam que eu tinha ido embora.

Várias vezes ao atender o meu celular me pedem para falar com outras pessoas que não conheço. Algumas vezes aconteceu de me perguntarem: - mas quem está falando? Eu respondo: Jean e a pessoa diz: - ah, desculpe, Paulo, foi engano. Ou então, o que é pior: eu ligo para um amigo, para alguém da família, e só pela minha voz não me reconhecem, tenho que dizer meu nome e às vezes noto que mesmo assim demoram a identificar-me, como se eu estivesse muito distante no passado em suas memórias.

Na empresa em que trabalho os colegas me olham com estranheza quando chego pela manhã, como se não me reconhecessem, e durante o dia praticamente ninguém vem falar comigo, nem sobre o serviço.

Outro dia, saindo do burburinho do Centro da cidade à tarde, entrei em uma igreja, para me acalmar, rezar e meditar sobre esses fatos estranhos. Passado um tempo o padre passou por mim e fechou a porta da igreja. Quando ele voltou em direção ao altar levantei-me do banco em que estava, desde o início, ao lado do corredor central por onde ele passara e perguntei-lhe por onde eu poderia sair. Surpreso ele disse que não tinha visto ninguém na igreja e perguntou onde eu estava. Disse-lhe que estava ali mesmo sentado quando ele passou para fechar a porta. Ele me olhou fixamente por alguns segundos e então com um quê de rispidez pediu que eu o acompanhasse até a frente que ele abriria novamente a porta.

Depois de muito pensar, sentir e intuir sobre esses fatos preocupantes, quando não assustadores, lembrei que tenho passado muito tempo navegando, lendo, publicando, comentando na Internet, muitas horas diárias de minha existência, o que tem me retirado proporcionalmente do mundo real, e não só nessas horas, pois seguidamente saio da frente do computador e continuo mentalmente imerso naquele, digo, neste mundo paralelo.

A virtualidade talvez não seja para amadores. A realidade, definitivamente, não é para amantes virtuais.

Comentários

Jens disse…
Jean, tenho uma teoria: fostes abduzido pelos ETs e não lembras. Eles devem ter te devolvido com algum defeito. Reclama no Procon intergaláctico.
Jean Scharlau disse…
Jens, já tentei, mas o número do Procon intergalático dá sempre aviso de "fora da área de cobertura".
Anônimo disse…
rs.. troca de procon então! tenta o virtual!
Delicia de texto! Me deixou com uma puta inveja!!
Bjs
Omar disse…
Oi Jean,
Coisas parecidas aconteceram comigo quando completei 50 anos...
Estou com 51 e te digo: isso também passa.
Abraço