Somos a economia do mundo, o celeiro abarrotado, a prodigalidade de Deus, o país do presente, o risco zero para os noves fora.
No entanto, zilhões bordejam o sono esmagado na calçada, a vigília esquecida no vazio, o traste do corpo arrastado, as lâminas e pedras, gasolina em chamas, balas achadas. A fome a empanturrar de vergonha e dor o cotidiano, o frio, a sarna, as frieiras, o fedor, o circundante mau humor, o asco do passante, o gigante mau-olhar, o afiado mal-querer, o desprezo com felpas de ódio. O cansaço de tudo, a dissolução em trapos imundos, o abandono. A desistência de qualquer resquício do querido amor, a rala piedade para tapar as feridas, a graça final de ser ignorado, o morrer pelo descaso completo.
Os distantes privilegiados, afortunados, poderosos, superiores, superávitos, queremos mais giga bites, mais horse power, quilômetros por segundo e milhagem, dólares, euros, reais, metrosexo e mais, mais, mais, e que venha tudo e outro tanto, o quanto antes, para comprar, devorar, gozar, descartar.
No tecido social, o câncer, que cresce sem restrição, sentido ou razão, e mata o tecido bom, somos nós.
No tecido social, o câncer, que cresce sem restrição, sentido ou razão, e mata o tecido bom, somos nós.
* - Saudações ao prefeito de Porto Alegre, capital recordista no crescimento da população jogada na rua. Saudações não irônicas a estes defensores públicos: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2016/04/defensores-publicos-pedem-auxilio-moradia-a-todos-moradores-de-rua-do-pais-5787762.html
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um abraço