Viver é, também, levar porrada. Tam! Béin!


No passado os médicos garantiam este aprendizado logo que nascíamos. E o pai e os irmãos mais velhos asseguravam que não esquecêssemos (eu sei por dois lados, já que tenho 3 irmãos mais novos). Quem aprende que em algumas partes do tempo em que estiver vivo levará porrada, várias vezes, está na vida com vantagem. A quem não sabe e não quer aprender que vai levar porrada, as porradas vão doer muito mais, e mais fundo. É um sujeito que estará muito mais sujeitinho ao medo, e à mágoa. Saber que levará porrada evita, de cara, grande parte das surpresas desagradáveis e assim pode diminuir e evitar os danos.

Vem o carinha, bucólico pela vereda florida, lírico, feliz e, com tamanha riqueza de espírito, mui e justamente distraído com a paz, a beleza e PAF! Toma-lhe uma nas fuças que cai sentado. Ele não sabia que levaria porrada, jamais tinha considerado isso, foi pego totalmente de surpresa: seu mundo caiu junto com ele e agora ele fica com medo de andar por aí de novo bucólico, lírico, feliz, etc. Vira um preocupado medroso de ser feliz e de ser infeliz, avarento de uma felicidade que já não tem mais. Caso esse neo sujeitinho tivesse à época um amigo próximo que sabe das coisas, este viria ao seu encontro e o parabenizaria, por ter experimentado a vida impactante e sobrevivido e por estar mais apto a ela, e isto ainda antes que terminasse o zumbido no ouvido e que o nariz parasse de sangrar.

Acho ainda que quem sabe o preço das porradas sabe mais do valor dos carinhos. Óbvio que não sou masoquista a ponto de achar que porrada é bom. Não é. Mas saber de antemão que as porradas vêm é bom. Daí é se esquivar quando elas vêm por cima e saltar quando vêm por baixo. Se te pegarem pelo meio, antes que consigas sair pela tangente, considera que o melhor nesse caso é evitar a porrada seguinte, que é a da calçada na cara, e cair assim meio de banda, se possível.

Escrevi este texto positivo, alto-astral, supramotivacional, de auto-ajuda marcial, porque de repente, depois de andar apanhando todo dia, há tanto tempo, fiquei muito feliz ao saber que um amigo que não vejo há tempos demais chegou à cidade e que logo mais vamos almoçar, conversar, encontrar outros amigos, entortar e desentortar o mundo só para ouvir o barulho que faz. Não me bate o medo de ser feliz, nem o de ser infeliz - sei das porradas. Vou é mantê-las ignorantes de mim, nestes próximos dias pelo menos, com uma pequena ajuda do meu amigo Pedro Almeida, que sabe uma pá de manhas que não sei e, agora que o Lula voltou pra São Paulo, é O Cara lá em Brasília.

Comentários

Moita disse…
Jean

Tenho que admitir que voce escreve muito bem.

Só resisto a dmitir é esse aego pelo Lula. kkkkkkkkkkkkk (brincadeirinha) Amigo.

Deus te proteja e continue lhe guiando pra escrever tão bem assim como você faz.

Parabéns pelo texto que não deixa dúvidas. rss

Eu até pensei em escrever: Indubitável, Mas ai pensei, Poderar deixar dúvidas em algum leitor. Melhor não. rsssssss

Seu amigo deverá adorar a sua companhia. Divirtam-se.
Jean Scharlau disse…
Caro Moita, grato pelo apreço, que, como diz a música cantada pelo MPB4, não tem preço.

Já meu apego fez uma revolução trans sexual, sem viadagem, e não é mais ao Lula, mas à :Dilma. Tudo no maior respeito, ainda quando a critique, como fazia com ele.

Bom domingo!
Anônimo disse…
Discussão altamente neste blogue, tópicos como aqui vemos emotivam aos que analisar neste blogue :)
Dá muito mais do teu blog, aos teus amigos.
Jens disse…
Porrada fortalece o espírito endurece a carcaça. Os delicados, claro, preferem choramigar em coxins de veludo.

Um abraço.
Jean Scharlau disse…
Jens, tu aparaste bem uma daquelas de deixar o índio deitado e sem fôlego, agora há pouco, e não ouvi queixa tua.

Eu tive que ir ao amansa burro pra saber que raios seriam esses coxins.

Não, e não é pra me gabar... A velha carcaça, confesso, aprecia essas comodidades.
Jens disse…
Jens é cultura, hehehe...
Liane Tonelotto disse…
Me lembrou Bandeira, que postei há poucos dias:

Nova Poética

Vou lançar a teoria do poeta sórdido.

Poeta sórdido:

Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.

Vai um sujeito,

Sai um sujeito com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó de uma nódoa de lama:

É a vida.



O poema deve ser como a nódoa no brim:

Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.



Sei que a poesia é também orvalho.

Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade.



Manuel Bandeira

(1886-1968)
Jean Scharlau disse…
Manuel Maior Bandeira!