Julian Assange não gritou: - O Imperador está nu!

Não foi isso que fez os podreres do império quererem seu escalpo. A nudez do imperador é assunto velho há muito tempo e as narrativas sobre a nudez imperial já são tradicionais e mesmo enfadonhas. Julian Assange incomodou o podrer imperial porque mostrou as fotos. E nas fotos aparece também (e incomoda mais que a do imperador - oh, escândalo!) a nudez da corte! A barriguda e pelancuda corte não gostou de ser mostrada assim, sem tempo de preparar-se, maquiar-se, sem a mínima produção, sem sequer aviso, que a mídia gorda sempre lhe proporcionou.

É a corte agora, muito mais que o imperador, quem persegue Assange, porque a nudez mostra o quanto a corte é abominável e desprezível. Essa corte tenta justificar seus gordos proventos fazendo crer ao imperador e aos súditos que é útil. Seus membros (e outros órgãos) são na verdade incapazes de produzir qualquer coisa de útil, portanto precisam enganar: produzem conspirações, para justificarem-se como anti-conspiradores. Produzem informes, para justificarem-se como contra-informantes. Comportam-se como o protagonista do livro “Nosso homem em Havana”. O segredo de todos eles é darem-se muito mais importância do que têm, para assim fazer crer ao império que são necessários.

Todo esse bafafá e fúria do podrer contra Assange é porque, expostos assim, tão francamente revelada sua inutilidade, perniciosidade e ridículo, os membros (e outros órgãos) da corte poderão vir, a longo prazo, a perder a opulência com caviar e champã e - horror dos horrores - terem até, alguns deles, que trabalhar.

O imperador, secretamente (se é que isto ainda é possível no império), deve amar Julian Assange e exultar com a maravilha que fez o Wikileaks, ao mostrar que ele não é o único peladão no baile.

Divirta-se também, mesmo não sendo imperador, lendo Santayana e Umberto Eco.
Dica do Gilmar Crestani no blog Ficha Corrida.


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