A odiada e a gente amada

Nos tristes momentos de morte de três dos meus quatro avós, tios, tias e principalmente de meu pai, há 5 anos, tive a sensação de me estarem sendo arrancadas as raízes. E as raízes, nós sabemos, são fundamentais para manter um tronco em pé.

Entretanto, com o tempo vi que herdara o firme apoio, propósito dessas raízes, pelo legado histórico e pela memória.

Depois percebi, por conta disto e de outros determinantes, que me transformava eu mesmo mais e mais em raiz, com tremendo assombro pela percepção de minha inevitável jornada em direção ao subsolo.

Desturvou-me a mente e descomprimiu-me o coração a luminosa, bela, deliciosa ciência das folhas, das flores, dos frutos que hoje enriquecem-me este nodoso, pesado, cascudo tronco.

Então agraciou-me a esperança das sementes, que um dia lançarão suas próprias raízes,

E uma dessas raízes serei eu,

Transformado por muitas das metamorfoses que transformam um homem,
Inclusive em raiz de suas próprias sementes,

Inclusive em raiz de sementes que não brotaram dele.


Escrevi isto ontem, em conversa com o Jens, lá no seu blog. O Jens conta do falecimento de sua mãe ocorrido há alguns dias e relembra com saudades as amorosas chineladas que ela invariavelmente se encarregava de lhe dar, por absoluta necessidade. Desculpe, amigo, não poder comentar a tua dor sem falar da minha e se isto que te falo te arranca ainda mais alguma lágrima, como tirou algumas minhas. Reguemos com elas aqueles velhos pés de chinelos, que tanto nos serviram e, amigavelmente, deixaram sua verdadeira dor para doer só agora...

Comentários

Jens disse…
Oi Jean.
Como já observei antes, teu texto é exato, além de comovente. São reflexões assim que nos ajudam a seguir em frente nos momentos de dor e pesar. Valeu!

Abraço.
JPSilveira disse…
Seu grandecíssimo e querido fdp... rs...

Fazia tempo que não ganhava meu tempo por estas bandas.

E, por venturosa coicidência, fizeste por reavivar as saudadedes da minha Nahyr (sei, sei... a tua se grafa Nair e tem outro parentesco... rs...).

E embora essas raízes de que falas, sustentem sim as nossas - quase sempre pretensiosas - convicções, o vazio que elas deixam quando secam e morrem, vai continuar doendo, como doem todas as saudades.

Te entendo. E no presente a entendo (a minha Nahyr) um pouco mais. Acho que isto é parte inevitável do efeito que a direção por onde roda a vida, sempre vai produzir.

Baita abraço.
Ale Valentim disse…
Meu Deus que coisa linda !
Como escreves bem. Se estivessem aqui tuas maos, as beijaria.
Jean Scharlau disse…
Jens, eu é que agradeço. As horas que passei em frente à tele maquininha tiveram então alguma serventia.

João Paulo, meu grandecíssimo e querido fdp... (conforme te apresentas), fazia mesmo tempão que não vinhas nos fazer ganhar mais tempo por aqui. Aparece mais seguido, aí pode ser que ganhemos tempo suficiente para enfim tomar aquela garrafa de vinho.

Ale Valentim, fiquei muito contente, porque lês e comentas maravilhosamente. Um dia desses vou levar minhas mãos e alguns poemas a passear aí em Floripa.

Abraços
JÚLIO GARCIA disse…
Que belo, sensível, poético e filosófico texto, Jean. Parabéns!
A foto da Figueira Torta também é fantástica!
Grande abraço!
Anônimo disse…
Se vires a Floripa me escreva. Quem sabe ha tempo de tomarmos um cafe.
alevalentim@hotmail.com
Omar disse…
Grande inspiração para um tema delicado.
Abraços