Brasília não é mais aquela

Congresso de ETs. Fotografado por Jean Scharlau
Fui a Brasília convidado a participar da sua 27ª Feira do Livro, fazer parte de uma mesa de debates sobre jornalismo independente, no dia 5 de setembro. Até então só tinha visto a Capital Federal duas vezes, do alto, pelas pequenas janelinhas de aviões. Uma vez à noite e outra de dia quando fazia escala ali. Nesta terceira vez cheguei de dia (e para ficar alguns dias) e pude confirmar antes de pousar que há bairros inteiros onde as piscinas são tão grandes ou maiores que as mansões de seus respectivos donos, aparentemente donos também do poder brasiliano.

Em Brasília tudo dista e, como sabemos, a maioria das coisas tarda e falha. É uma cidade feita para o trânsito corriqueiro de OVNIs, onde a população anda mal ajambrada dentro dos lerdos automóveis, apesar do abundante e espalhafatoso asfalto. O clima seco como em pista de pouso lunar me agradou bastante, pois a temperatura esteve saudável nos 5 dias em que estive por lá. No que em outros lugares seriam gramados, lá deveriam colocar plaquinhas dizendo: não pise nas cinzas. Ainda assim não estava quente.

Aquela imagem Niemayeriana Colosso que a mídia nos vende de Brasília é equivocada, insuficiente, se esvai no planalto. Aqueles prédios do Oscar são adequados ao que é Brasília, mas não fazem a representação plena daquela estação orbital. Na imagem brasiliense midiática falta mostrar o espaço, mais que entre os prédios-nave-espaciais, o espaço para além deles, onde temos a sensação de nos mover em câmera lenta, ainda que dentro de carros que em outros lugares pareceriam rápidos demais. Quem não tiver carro em Brasília simplesmente não existe, ou então é invisível. Gente caminhando na rua, gente em parada de ônibus são visões rarefeitas por lá. As pessoas se movem de um estacionamento para o outro, de uma pista de pouso para a outra sempre dentro de suas embalagens metálicas. Ir ao cinema, ou à biblioteca, demanda o planejamento de uma viagem intergalática, com aquele negócio de Asa Norte, Asa Sul, cidades satélites, Lago Artificial, Esplanada dos Ministérios, palácios estratosféricos, cada um a horas-luz do outro mesmo que se vá de bólido.

Não me admira que os ladrões sintam-se tão à vontade por lá, pois o povo, vítima e possível testemunha, está sempre distante demais ou completamente ausente. Nos Unaitedisteitis havia o velho-oeste, terra sem lei. No Brasil temos Brasília, o novo-oeste, terra sem povo, mas de muitas leis, que são feitas pelos e para os ETs que navegam por lá, os mesmos que chamam os carros de carroças e que nunca andam de ônibus que não decole de aeroporto.

Agora, para mim, Brasília não é mais aquela, feita de concreto em forma de brancos discos voadores. Brasília parece-me sim um paraíso deserto, fértil, imenso e belo, mantido em órbita do Brasil à altura necessária para que jamais seja alcançado pelo povo desta terra.

PS 10 minutos depois - Seria completamente injusto se não fizesse a ressalva de que encontrei (melhor, fui encontrado) por maravilhosas e raras pessoas (povo) nesse deserto. Sim, nós mesmos que nos sentimos tão terrestres entre os extraterrestres.

Comentários

Brasília é uma cidade onde pedestre não tem vez. É uma cidade do século XX. Ela é retrogada e não considero bem planejada. E mais, a imensa maioria dos prédios comerciais e residenciais são muiiiito feios. Quem chega a Brasília de manhã e tem compromisso no final do dia, tem uma dificuldade imensa de ficar em algum lugar. Geralmente o pessoal vai a algum shopping. Como eu não gosto de shopping, eu descobri que o melhor lugar para ficar em Brasília é o parque das cidades.
Anônimo disse…
Quanta ignorância! Santa ignorância!
Jean Scharlau disse…
Ary, compartilha com os ignorantes tua sabedoria. Não sejas egoísta.
Renato Couto disse…
Como diria o cantador Oliveira de Panelas: "ÔÔÔ...Estes discos voadores me assustam demais...", além do fato de Brasília não ter butecos...
Anônimo disse…
Mas essa foto que você colocou é sensacional, demonstrando a fotogenia dos prédios de Niemeyer.