Crescimento da tiragem dos jornais é provocação

No dia 3 de fevereiro publiquei neste blog a seguinte provocação e informações:

O ocaso do capitalismo e o fim dos jornais

"De acordo com o Instituto Verificador de Circulação (IVC), a tiragem dos 93 jornais filiados ao IVC cresceu 11,8% em 2007. São 4,1 milhões de exemplares por dia. ­ O crescimento é bastante significativo ­ declara Ricardo Costa, diretor-geral do IVC. ­ Os números contradizem todas as apostas de que os jornais acabariam. O aumento foi cerca de 80% superior à alta de 6,5% em 2006, onde a média de circulação diária era de 3.705.849 exemplares. Para o diretor-geral do IVC, além da conjuntura econômica favorável, houve mudanças gráficas, criação de novos cadernos e campanhas para atrair um número maior de leitores." (Jornal do Brasil.)

Como a minha provocação não provocou ninguém, nem meus leitores e colegas blogueiros que praguejam ou profetizam a derrocada do munaio capitalismo e dos munaios jornais, decidi hoje eu mesmo sentir-me provocado e examinar, ainda que superficialmente, essa ferida que apontei há meses.

Olha que coisa mais esquisita: - na casa do munaio capitalismo, os Unaitedistêitis, a jornalança vem perdendo leitores pagantes (informação do IVC lá deles). Porque é que aqui, no quarto da empregada do capitalismo, a quantidade de leitores dessa josta aumenta?

Ora, a resposta é simples como as coisas da vida no campo das idéias: a empregada está ganhando um pouco mais, um pouquinho mais, e com menos insegurança e instabilidade - então consegue comprar algo do conforto das coisas (um pouco do que só a patronagem sempre teve) ainda que empenhando nisso mais do seu trabalho futuro (melhor trabalhar mais comendo a cenoura do que tê-la sempre só balançando na frente do nariz). Daí vêm duas coisas.

Uma - jornal é produto e objeto de consumo. Muitos que antes não podiam consumir esse produto hoje podem e o fazem. (O consumo de carros, computadores, TV por assinatura, aparelhos eletro-eletrônicos, tem aumentado numa faixa de 20 a 30% ao ano - muito mais que jornais, portanto.)

Duas - darwinianamente adaptando-se para não ser extintas, as empresas brasileiras de fabricar jornais têm adequado seu produto às novidades, no aspecto mercantil, direcionando-o cada vez mais ao seu alvo, o consumidor, não aos consumidores de jornal, mas aos consumidores de produtos em geral, pois estes é que estão aumentando em proporções bastante animadoras. Assim, o objeto jornal hoje é quase que totalmente um grande folheto diário de propaganda do comércio. É, mais que mercadoria de consumo de informações, objeto de indução e serviço ao consumo de mercadorias. O pouco (não medido em centímetros, mas em significado) que resta de suas páginas que não está tomado pelas ofertas do dia é usado pelos negociantes de jornal para fazer, dissimulada com a aparência de informação, análise e entretenimento, propaganda política do seu grupo (patrocinadores e súcias) e bem encaminhar os negócios e negociatas dos seus interesses (como os altos juros pagos aos senhorios da "dívida" pública, ou seja, essa corja mesma). Então, no Brasil, estamos consumindo mais esses panfletos para encontrar as melhores ofertas do que queremos comprar e de lambuja somos engrupidos com a propaganda do que eles querem nos 'vender'.

Disso concluo que em casa de capitalismo serviçal o aumento de circulação dos jornais (desses que por aí estão) é um ônus do crescimento econômico, assim como a poluição e a picaretagem.

Meus comerciais: esta semana pretendo apresentar aqui no blog uma proposta para o transporte público coletivo. Acompanhem-me, por gentileza.

Comentários

ZEPOVO disse…
Eu não compreendo como a venda de jornais aumenta, ainda mais com o maior acesso da classe C à web.As explicações que vc deu são pertinentes, mais longe de justificar um aumento na tiragens. No entanto anunciantes não são otários, e os jornais são disputados pelos grandes. Não compreendo.
Jean Scharlau disse…
Zé, se o cara de classe C, D, pode finalmente comprar computador, acesso à internet e até carro a prestação, muitos há que podem e finalmente fazem assinatura de jornal. Acho que muitos dos que tinham assinaturas de jornais as estão cancelando, mas muitos mais os estão assinando pela primeira vez. Claro que também há vendas nas classes A e B, para quem uma assinatura de jornal pesa quase nada e ainda menos do que antes.

Hoje as empresas que fabricam jornais fazem marquetim ativo, com vendedores na rua e por telefone, além da massiva propaganda através dos seus outros produtos, o rádio e a TV.

Além disso, para os núcleos familiares consumidores nos centros urbanos é compensador economicamente assinar um desses panfletos, pois a economia que obtêm acompanhando só as promoções dos supermercados, por exemplo, paga-lhes a assinatura.
Anônimo disse…
a segunda hipótese foi na mosca.
baita abraço meu,
Pirata
José Elesbán disse…
Acho que tens razão.
O pessoal está comprando jornal, na onda do aumento de renda (por menor que seja), e do aumento da alfabetização, e da instrução.
Jens disse…
Ora, ora, pelo que li os barões da mídia devem agradecer o governo Lula e sua ainda tímida política de transferência de renda pelo aumento da venda dos pasquins.
Lula Lá, mais uma vez!
Omar disse…
Caríssimos,
A tendência à diminuição da mídia impressa no mundo é inexorável, na minha modesta opinião. Somente que temos que olhar esse fenômeno em perspectiva. Alguém poderia dizer que é um processo desigual e combinado de médio para longo prazo, de acordo com a situação de cada país e, em cada país, de cada região. Em Londres, por exemplo, aumentou significativamente a distribuição de jornais gratuitos nos locais de grande movimento em detrimento dos jornais pagos, enquanto que aqui nos pampas gaúchos aumentou bastante a venda daquela bosta que nem jornal é (o Diário Gaúcho), porém que é contado como tal.
Anônimo disse…
Jean

chegaste a considerar a possibilidade de esses dados ñ serem confiáveis?
Vindos de onde vem...

Eugênio
Jean Scharlau disse…
Isto não está fora de cogitação, Eugênio. Aliás, por isto é mais que recomendável, indispensável citar a fonte ao comentar ou reproduzir uma nota.
Com certas reservas, estou de acordo com o ponto de vista do relator, o scharlau.
Roy Frenkiel disse…
Vou passar seu texto pra quem entende tanto daqui quanto dai e ver o que respondem. Gostei muito da analise, jean!

abraxao

RF
Anônimo disse…
Precisa ver se nesses números do IVC estão incluindo os jornais diários gratuitos distribuidos aos milhares aqui em Sampa nos semáforos e estações de metrô. Porque o q se percebe por aqui é a indiferença cada vez maior das pessoas em relação aos jornalões. Os jornais gratuitos, em formato de tablóide, foram bem recebidos e são lidos não só nas casas, mas tb nos trajetos para o trabalho, nas viagens de metrô e nos intermináveis congestionamentos
Anônimo disse…
Os jornais populares são, em sua maioria, muito mais que recortes de anúncios com outros conteúdos com "dissimulada aparência de informação". Muito mais mesmo. Mas, para começar a fazer essa análise é bom partir do comentário do Johnny, acima. Os jornalões são recebidos com indiferença por esses novos consumidores de jornais. Amo os jornalões, trabalhei em vários, inclusive com menções de reconhecimento em prêmios Esso e Embratel, por exemplo. Mas é muita pretensão acharmos que sabemos o que classes às quais não pertencemos querem ler ou saber. Edito diários populares há mais de seis anos, initerruptamente. Primeiro um, de 2002 a 2005, agora outro - concorrente na mesma praça -, desde 2005. E te digo que, depois de optar pelo jornalismo por querer mudar o mundo... e também depois de perceber que pouca ou nenhuma gente muda o mundo na grande imprensa, ainda que - ou sobretudo se - tiver uma carreira brilhante... depois de tudo isso eu jornalistas aprenderem, na marra, a fazer jornal para o povo, não para jornalista. Claro que o caminho é longo e o investimento é curto - esse, sim, o maior problema. Mas tratar o jornal popular como subproduto é, no mínimo, ignorância, ato que, em si, fala muito da prepotência que afastou leitores dos jornalões que nós, jornalistas, tanto amamos. Este, sim, o jornalão, tem o maior desafio pela frente. Como em palavras cruzadas - gosto muito dessa comparação -, o novo leitor de notícias em breve se cansará do "picolé". E aí fica a pergunta: o que o jornalão tem para oferecer a ele? Será que suas portas estão mesmo abertas? Ou esse leitor virá encontrar acolhida aqui, na internet? Enfim, há muito mais que se dizer sobre isso, mas espero que minhas colocações sejam um bom começo...
José Elesbán disse…
Taí, Jean. Uma opinião de alguém de dentro das redações.
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