Na árvore à beira do caminho gritando: Cuidado! É um tigre! É um tigre!

Em vez de ir adiante, seguindo as gazelas que sobreviveram, me encarapito na copa da árvore mais alta, onde o tigre não sobe, e fico a avisar os passantes aqui do alto: Cuidado! É um tigre! É um tigre! Ele salta até 9 metros, tem uma bocarra camuflada sob os belos olhos, garras guardadas em fio e força no meio do macio amarelo, presas rápidas, pontas mortais como armadilha de lanças, e te devora inteiro no almoço ou aos pedacinhos em dois dias.

É mais ou menos isso que eu e tantos outros tentamos fazer nas nossas árvores - livrar os outros bichos do tigre e da morte. Os que passam incólumes, quando o tigre está temporariamente saciado, continuam pelo caminho contando aos outros que tem um maluco de um animal em cima da árvore alta, fazendo uma gritaria bizarra para assustar os viajantes. Quem me contou foi um deles, que deu muita risada quando ouviu meu alerta, até que seu acompanhante foi destroçado em um salto e três golpes.

Às vezes parece que perco tempo, meu e dos outros, e me dá vontade de pendurar uma placa - Cuidado com o tigre! - e seguir adiante. Mas que droga, acho uma sacanagem com os analfabetos (manias de bom-moço, mesmo que nem bom e nem moço mais - só manias).

Comentários

Anônimo disse…
Belo texto, Jean, não raro me sinto assim... Uma coisa é certa: não perdes tempo escrevendo textos como esse.
Jens disse…
Parafreaseando Érico: o silêncio só é propício aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Portanto, o negócio é gritar. Ou assoviar, se a voz faltar.