Desta vez eu cá, ele lá. A fila no caixa para pagar o cafezinho está exorbitante (é a pujança da economia), a mesa do Presidente parece cada vez mais distante e começa a ficar difícil vê-lo aqui deste ponto mais para a esquerda do saguão. Daqui da fila mesmo, antes que o homem termine seu cafezinho e vá trabalhar, eu grito: - Presidente, e como é que fica o acinte, o crime de continuar dando metade de toda arrecadação federal para os magnatas especuladores? Noto que parece que o Presidente torceu levemente a cabeça para este lado. Ou estará só conversando com o sujeito que está sentado à mesa e de costas para cá? Não desisto e grito de novo: - Essa montanha de dinheiro do povo, Presidente? Que deveria ir para escolas em turno integral, hospitais, transporte públicos, seguridade social? Agora parece que ele se mexeu. Ou será que está conversando com o cara sentado à sua direita? Daqui eu juraria que aquele cara é o Meirelles. Resolvo mudar de assunto para ver se ele me responde: - E a grande sacada dos marqueteiros federais de enviar comidinha pro Haiti? - Aquele avião que os marqueteiros mandaram com 14 tonéis de comidinha para o povo do Haiti brincar? Agora parece que ele disse alguma coisa! - O quê, Presidente? Estou falando dos 7 mil quilos de feijão que foram de avião para Puerto Príncipe, para serem distribuidos aos 8 milhões e 700 mil haitianos. Esta fila tá demorando e eu fiz o cálculo, Presidente, para passar o tempo: dá 0,8 grama de feijão, ou 1 grão para cada nativo (bota água nesse feijão, negão!) Nos 4 mil quilos de açucar (que eles deveriam usar para pegar moscas e engrossar o caldo do feijão, mas aposto que vão cheirar tudo) . Ah, sim, não esqueçamos das 3 mil latas de óleo, que tirando os que não podem comer gordura dá meia gota para cada um! Puxa, acho que com isso eles não terão com que se preocupar pelos próximos meses! Talvez, Presidente, fosse melhor avisar o pessoal do marquetinguelê para reunir 14 mil nativos do lado de fora da base brasileira, dar os 7 mil quilos de feijão para 7 mil deles, os 4 mil quilos de açucar para outros 4 mil e as 3 mil latas de azeite para outros 3 mil - eles, já reunidos, fariam ali mesmo uma grande festa banquete estilo americano (cada um leva 1 kg) com comida típica from Brazil, para o puro deleite visual dos outros 8 milhões e 686 mil que ficariam sambando e batendo palmas à espera do próximo vôo do país do futebol, carnaval, marquetinguelê e tropas de descanse paz. Ei, Presidente! Fique mais um pouquinho, tome outro cafezinho, que já estou quase chegando no caixa. Espere um pouquinho, Presidente! Presidente! Não seria melhor dizer que esse feijão é para semente e além dos 4 mil kg de açucar enviar os 400 técnicos agrícolas da EMATER que a Yeda(psdb), governadora do RbS, demitiu?
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