Mauro Santayana responde

> Prezadíssimo Mauro Santayana
>
> E chegamos à situação de parabenizar quem defende a vida, contra algumas correntes à margem esquerda do rio... Sempre me orgulharei de elogiar quem o faça, e tão bem quanto fizeste.
> Parabéns, parabéns!!!
Como cantamos nos aniversários das crianças que nos dão a honra e a graça de nascer...
>
> Jean Scharlau
> Porto Alegre

Muito obrigado pela opinião generosa sobre meu texto de hoje. Lembrando sua própria frase, estamos em tempo tão estranho que idéias tão óbvias e tão singelas passam a merecer a atenção das pessoas, quando divulgadas. Como diz um velho amigo meu, é preciso ter a coragem de parecer bobo e de repetir lugares comuns - porque a "intelligentsia" se perde, ora no conformismo com a onda predominante, ora na masturbação sociológica, para lembrar Sérgio Motta. Muito obrigado, abraços. Sou, como pode imaginar, muito ocupado, em meus 75 anos, mas vou arranjar um tempinho para visitar seu blog. Gratíssimo, Mauro.
(Leia aqui o artigo Santayana)

Comentários

Anônimo disse…
Caro Jean Scharlau, em primeiro lugar obrigada pela mensagem lá no meu blog sobre o "ser professora"...Não imagina o quanto me emocionou. Quanto ao artigo do Mauro Santayana, do qual também sou leitora (e admiradora)discordo num ponto que é preciso esclarecer: ninguém é a favor do aborto, mas, sim, da discriminalização do aborto. Há muitos componentes a se levar em conta neste tema, não é simples assim de ser contra ou a favor da vida. Você veja, por exemplo, a hipocrisia: essas pessoas são a favor da vida no feto, e uma vez nascidos, não se importam que milhares deles irão sucumbir até no máximo à adolescência. Se dedicassem aos que já nasceram uma porcentagem mínima da luta contra o aborto, aos que ainda vão nascer, não seríamos o país campeão de mortes de jovens por abandono e violência. Ninguém canta no aniversário dessas crianças, porque eles nem sabem que dia é seu aniversário, muitos desconhecem até o que é aniversário. Acontece também que, legalizado ou não, a classe que dispõe de recursos faz seus abortos em clínicas cercadas de todo o cuidado, preservando a vida das mulheres. As mulheres das classes pobres ou morrem em abortos clandestinos, sem cuidados e assistência, ou vão tendo filhos e jogando na rua para servirem de pasto a esta sociedade cruel e desumana com seus excluídos. Sei que a saída para isso é a informação, está provado em pesquisas que as mulheres quanto mais escolarizadas sabem conduzir a maternidade de modo a ter o número de filhos que poderão cuidar. E cuidados após o nascimento, é disso que precisamos. Abraços. (Eu soube esses dias que tem uma jovem, pobre é óbvio, presa na Bahia por ter tomado uma substância abortiva. A lei deveria proteger essas pessoas e não puni-las. Será que algum desses algozes ajudariam a cuidar do filho dela?)
Jean Scharlau disse…
Caríssima Glória, surpreende-me sobremaneira que tu, que estás sempre entre as primeiras a defender incisivamente os direitos dos pequenos homens e mulheres, como atestam todos os textos que publicas em teu blog, consideres eventualmente aceitável e até desejável a poda pura e simples, antecipada e à revelia da opinião de quem detem os direitos à própria vida. Estimular a poda dessas vidas que recém iniciam, retirando as restrições a esse bárbaro ato? Mas então estendamos a todas as vidas que sofrem essa regalia - permitamos o livre extermínio, pela mão de parentes próximos, de presos, de doentes, de miseráveis, de desvalidos, retiremos as amarras sociais que criminalizam tais atos. A não ser que pensássemos antes em perguntar aos diretamente envolvidos: queres abdicar antecipadamente de teu provável sofrimento? Ao que todos, segundo o que pareces dizer, diriam sim, sim! e dito isso levariam a lâmina até o próprio pescoço e se degolariam. Eu, ainda assim resistiria a leis que autorizassem isso, induzindo essa auto-eutanásia a menores e prejudicados na sua capacidade de escolha. Mas o que vem a possibilitar a descriminalização do aborto é muito pior que isso.

Abortar, além de um risco criminal, é insalubre para as mulheres pobres? Pois bem, matar gente grande também é, pois ao que me consta as prisões são muito insalubres e muitos morrem lá dentro, mas nem por isto vou defender a descriminalização do assassinato, ainda que de pessoas cuja maior perspectiva de vida possa me parecer o sofrimento.

Além do México, Portugal liberou o aborto. Que grande horda de miseráveis há em Portugal? (O que, repito, mesmo que houvesse, nada significa.) Não, o que há é uma grande horda de comodistas, apoiando-se, como sempre, nos miseráveis, para justificar suas ânsias e atitudes hedonistas.

Se o risco de sofrer, e fazer sofrer, fosse motivo para a prévia eliminação da vida, então deveríamos matarmo-nos todos e tudo ficaria resolvido.

Com todo o mesmo apreço costumeiro. Jean Scharlau.
Anônimo disse…
Caro, Jean, parece que falei grego... ou se trata dessa questão de quando a pessoa tem uma determinada posição, não se abrir a um outro ângulo da questão. O que eu quis enfatizar é o quanto nós, enquanto sociedade, deixamos nossas crianças no abandono, negando auxílio às mães com dificuldade (ou mesmo impossibilidade) de criar seus filhos. A luta contra o aborto deve vir acompanhada de uma nova postura da sociedade na proteção às suas crianças e famílias pobres. Isso é que é fundamental. Quantas crianças nascidas recebem algum tipo de atendimento e proteção dos que tanto combatem o aborto? Ao contrário, o que vejo é a sociedade compactuar com a redução da maioridade penal para jogar nossos adolescentes em unidades de internação "matando-os" pelo isolamento e estigma de um sistema cruel e desumano. Mais de 90% da população são a favor da redução da maioridade penal, se deixar eles querem chegar a "bebês bandidos"... Sou mãe de 4 filhos, sei o quanto é difícil criar os filhos sozinha, o quanto nós, mulheres, pouco contamos com a sociedade para dar conta de trabalhar e cuidar dos filhos. Então, é isso, eu quis apenas volver os olhos para as mães que têm seus filhos. Ajudem-nas!
Anônimo disse…
Perdão, mas sentí uma forte hipocrisia nos dois posts. No primeiro, porque quase se desculpava por ser a favor da descriminalização do aborto.
E no segundo (do senhor scharlau) por propagar tantos sensos comuns. Me pareceu o pároco da igreja na missa de domingo.
A mulher tem o direito a decidir sobre sua vida e seu corpo.
Jean Scharlau disse…
Caro(a) comentarista que não ousa dizer seu nome, acho curioso, digamos assim, para não ofender suscetibilidades, esse pendor de algumas mulheres (e homens, muito mais) por considerar a gravidez como uma espécie de furúnculo que pode surgir depois do sexo, e cuja "cura" seria uma rápida incisão e extirpação do núcleo pustulento. Esse me parece um senso muito mais comum - o que desconsidera totalmente a percepção do outro e encara um ser que eventualmente está ligado ao corpo da mulher como O corpo da mulher. É a visão egocentrista, também excessivamente comum, que vê o mundo e todas as criaturas a dar voltas em torno do seu umbigo, mas pior, como meros reflexos de si.
Jean Scharlau disse…
Glória, desculpe se meus ouvidos às vezes são meio espartanos. Concordo plenamente com teu segundo comentário, e então também com teu primeiro, e ventila-me a alma saber que tens quatro rebentos que rebentaram sem que antes os arrebentassem. Mas fiquei curioso sobre se és ou não a favor da descriminalização do aborto no Brasil, embora ache que esses crimes que indicaste são maiores, porque anteriores e geradores desse sentimento e situações favoráveis ao crime do aborto na nossa burra, estúpida e valente-covarde sociedade.
Anônimo disse…
Se é por falta de assinatura, vamos lá.
Acho q tens uma visão muito simplista e um tanto preconceituosa sobre o tema.
Passa a idéia que acredita que toda mulher que defenda o aborto seja uma fazedora de filhos compulsiva e irresponsável.
Ninguém defende a banalização do aborto, mas sim em a mulher ter o direito à escolha quando em uma situação limite.
Eu mesmo tenho minha criazinha, e mesmo assim não tenho essa visão romântica do mundo, como tu pareces ter.
Em certos casos é mais prudente um aborto que botar uma criança nas mãos de certos indivíduos. E isso não citando os comentários do post da glória.
Pobreza e privações são apenas alguns exemplos do que uma criança passa em um ambiente não saudável, para assim se dizer.

Sil.(há, cá está a assinatura)
abraço
Anônimo disse…
E tem mais: nem sempre uma relação sexual se realiza entre duas pessoas perfeita e absolutamente conscientes de que o ato que praticam por prazer(é por prazer sim que se copula, ou por violência, em geral do homem sobre a mulher, ou por timidez e medo da mulher de exigir que o homem use camisinha,talvez por temer perder o homem a quem ama se se negar a ele sem proteção, ou por uma perturbação ocasional dos sentidos, por causa de droga ou bebida, etc. etc.)poderá ter como consequência a geração de um filho indesejado (indesejado, quer dizer, que nenhum dos dois deseja, ou está disposto a criar, ou tem condições financeiras, emocionais, sociais de criar). Portanto, o ato nem sempre é consciente. E aí pergunto: a mulher que não quer ter o filho que irá crescer em seu ventre, e dela será inteiramente dependente durante semanas, mas que copulou sem tomar anticoncepcional e sem que o seu parceiro se protegesse, não tem o direito de abortar o filho potencial que terá por quê? Por que o que vale, o que tem valor é o desejo do homem, é o espermatozóide do homem, homem este que aparentemente dignou-se a depositá-lo no ventre da mulher e por isso tem mais direito sobre o que nem feto ainda é do que ela, que também cedeu seu óvulo? Por que o espermatozóide do homem tem mais valor do que o óvulo da mulher, o útero da mulher, a placenta da mulher, em suma, o organismo da mulher, sem o qual aquele espermatozóide não se tornará em algumas semanas um ser em potencial? Por que há mais homens contra a descriminalização do aborto do que mulheres? Será o patriarcalismo ainda hoje? Mulher nenhuma é a favor do aborto, não existe isso. Mas não quer ser chamada de criminosa por colocar a vida dela, o corpo dela, a saúde física e emocional dela,acima e à frente da consequência de um ato sexual realizado de modo inconsequente e de um filho possível que não deseja, não quer, não pode criar, e que não aceita que o parceiro lhe imponha.