E então a Mídia de Montagem criou o Caso Ford

Já por duas vezes o Eugênio Neves propôs, a mim e a quem estiver aí para escutar, a seguinte questão.

"A mídia local sempre foi hostil às idéias de esquerda e aos partidos do campo popular, particularmente o PT. Mas o primeiro grande confronto entre a Frente Popular no governo do estado e a mídia foi na questão da Ford. [...] Não houve obstáculo material ou ético (esse nem se fala), que eles não transpuseram para atacar e desinformar, sinteticamente no infame e simplório bordão "O Olívio mandou a Ford embora", a manipulação e a mentira mais deslavada eram o "cardápio" diário servido à população pela mídia.
Qualquer jornal, rádio ou televisão, de qualquer empresa, sempre continha uma dose de "veneno", inoculado pacientemente na opinião pública, no âmbito de uma campanha que tinha o claro objetivo de desgastar a Frente Popular. Não havia hora ou lugar onde essa hostilidade não se fizesse sentir. Essa campanha, apesar de primária, foi tão bem sucedida que o PT até hoje sente seus efeitos e ainda não conseguiu produzir um antídoto para neutralizá-la."

Para que ele não me proponha pela terceira vez a questão, tentarei respondê-la antes que o galo cante. No meu modo de pensar, a única resposta possível a essa falcatrua é a que se deve dar a todas as falcatruas - jogar a mais torrencial e límpida verdade sobre a sujeira toda. E a verdade, primeira e única neste caso, é: os que acusaram Olívio e o PT, com milhares de artigos xerox, centenas de papagaios de microfone e dezenas de reflexos de teleprompter, esses é que mandaram a Ford embora. Sim, Olívio estava lá e teve a oportunidade, mas não tinha o motivo e nem há provas de que tenha cometido o crime. Sua motivação era exatamente a contrária - sabia que era importantíssimo politicamente para si e para a Frente Popular que a Ford se instalasse, de forma que o "negócio " ficasse "bom para os dois lados" - no caso, para a Empresa e para o Estado - como fizera com a GM.

Maigret então nos pergunta (retoricamente): - quem mais estava lá? Quem mais teve a oportunidade? E, mais importante: quem tinha motivo para querer matar a Ford no RS? E nos responde. Elementar meus caros Sherlockes - todos os meganhas, gorilas neo liberais do PSDB=PFL=PP=PPS=RBS. Estavam lá naquele momento histórico, construiram a possibilidade e engendraram o crime por dois principais motivos: 1 - seria uma profunda e ampla perda política para eles deixar o povo ver um governo socialista dar ao big business que arquitetaram, à menina dos seus olhos, muito melhor conclusão que eles - isso seria uma imensa vitória política da esquerda - a comprovação de que ela, além de tudo o mais, também é melhor negociante que a direita, coisa que depois o governo Lula viria a provar. 2 - Era indispensável criar um fato político negativo para o primeiro governo socialista pós Brizola no RS, preferencialmente assim, já no seu início - então tramaram o assassinato da Ford no RS e a culpa para Olívio e o PT.

Colocando a tramóia em marcha

Primeiro passo - impingir à vítima, diante da multidão, a culpa prévia: "O Olívio e o PT querem mandar a Ford embora!" - com acusações massivas e diárias.
(Os "culpados prévios" foram pegos de surpresa, suponho, ou então subestimaram o inimigo, e então em vez de denunciarem os golpistas, em vez de acusá-los de que, eles sim, queriam criar o fato criminoso, apenas defendem-se, desmentem, negam, como se os outros tentassem somente criar uma impressão errada, uma acusação fantasiosa. E assim, quanto mais a fantasia crescia, mais os "prévios acusados" se defendiam e negavam e desmentiam... O objetivo dessa tática, agora parece óbvio, era preparar o terreno para que quando perpetrassem o crime (o que já tinham bem planejado) bastaria que dissessem: "- viram? Nós estávamos certos e denunciamos desde o princípio: era isso mesmo que o PT queria." E estariam livres da culpa, pois já tinham criado um "culpado" perante a multidão. ...E foi exatamente assim que fizeram. Uma técnica nazista, diga-se de passagem, muito bem assimilada pelo Judeu da Zona Sul. Pensando bem, já havia sido usada pelos fariseus há 2000 anos, contra O Homem que atrapalhara suas negociatas no Templo.)

Segundo passo - acionar seus comparsas nos executivos federal, estadual e no Congresso (onde eram ampla maioria) para mudar e criar as leis necessárias.

Terceiro passo - Oferecer à empresa muito mais grana e isenções fiscais para ir para outro estado - no caso a Bahia, do comparsa ACM.

Quarto passo - Conclusão com punhal de ouro: os carrascos daqui posariam de profetas e eternas vítimas e os do governo federal e baiano de salvadores da Pátria, argumentando que teriam impedido a Ford de ir para outro país.

Assim, Eugênio, a única resposta possível e correta a esses que seguem acusando o PT e Olívio de terem mandado a Ford embora é desmascará-los, pois há três possibilidades para eles: são os próprios criminosos, são cúmplices, ou são os trouxas que compraram, caríssimo, a versão em série, o Caso Ford da Mídia de Montagem. Em qualquer dos três casos é imperativo que se lhes aponte o dedo indicador e diga com direito a todas as letras:
- FORAM VOCÊS QUE MANDARAM A FORD EMBORA.

Comentários

Anônimo disse…
Perfeitamente, Jean. Perdemos aquela batalha crucial... Fomos "tundados"! Não marcamos posição, e agora parece inevitável que a refrega esteja-nos desfavorável por aqui.
Também houve aquela cizânia patrocinada pelo Tarso (se me permites, mero arrivismo), nas "prévias".
/Mingo
Anônimo disse…
Grande Jean: avaliação irretocável.
A batalha da Ford foi fundamentalmente uma batalha de mídia, que nós perdemos. Infelizmente nem todos aprenderam com o episódio, haja visto os salamaleques com que muitas lideranças petistas ainda mimam a immprensa burguesa.
Um abraço.
Anônimo disse…
Chega de tergiversação e manipulação! Quem mandou a Ford embora foi Olívio Dutra que falou na Fiergs que nunca seria um empresário, pois não era ganancioso. Olívio - que tem preconceito com o capital - NUNCA recebeu os empresários da Ford. E no dia marcado para o encontro, subiu no caminhão da CUT em frente ao Piratini e disse em alto e bom tom: Nenhum dinheiro do erário público será destinado às multinacionais. Mentiu, porque emprestou dinheiro para a GM, cuja fábrica estava quase pronta em Gravataí. O Estado do RS já tinha assinado o contrato com a Ford e havia dinheiro das privatizações para o pagamento dos empréstimos. Olívio não pagou -mentiu ao dizer que não tinha esse dinheiro --, descumpriu e quebrou o contrato. Meses depois é que houve a MP de FHC concedendo incentivos ao Nordeste para instalação de empresas. Essa é a verdade nua e crua, doa a quem doer. Depois de Olívio o PT nunca mais ganhou nenhuma eleição importante no RS. E se a ZH apoiasse Olívio nessa imensa burrice, perderia 99% de seus assinantes.
José Elesbán disse…
É Jean, boa versão. O caso é que o PT precisa marchar junto para apontar o dedo para a mídia, e no caso do Olívio, já foi uma tremenda bola fora a candidatura Tarso.
Se na próxima eleição, o partido, ou a coligação marchar junta, talvez dê para apontar o dedo. Além disso é preciso esperar que funcione. Aí é como diz o Hélio, a comunicação precisará ser melhor.
No momento, como bem lembrou o Rossetto, a coisa continua assim: "o PT mandou a Ford embora, mas a CEITEC é uma conquista de todos os gaúchos."

[]
Patrick disse…
O empresariado e a burguesia brasileiro são extremamente ideológicos e não se tocam disso. Lembrei de um comentário que Luís Nassif fez no seu blog em outubro de 2006: Câmbio e ideologia. "Curiosamente, os eleitores de Alckmin sentem saudades dos tempos do governador Olívio Dutra, que pagava religiosamente os créditos do ICMS. Mas é provável que a maioria vote em Yeda Crusius. E alguns deles ainda têm esperança de que na véspera das eleições o Jornal Nacional traga uma matéria sobrre a origem do dinheiro que iria comprar o dossiê, permitindo a Alckmin virar o jogo."
Claudinha disse…
Jean, estávamos devendo um comentário sobre este teu inspiradíssimo post. É isso aí, pouca gente se recorda, convenientemente, da Lei do Regime Automotivo do FHC que permitiu a ida da Ford para Camaçari, BA.
Reproduziremos, na íntegra, teu post no blog. Abraço!