21 de abril

Eles não desistem. Eles nunca desistirão. Das mansões, dos serviçais, do dolce far niente, das orgias discretas e das ostensivas, dos vícios compreendidos, co-pactuados, incensados, do luxo, das coisas feitas com mil vezes mais trabalho, cuidado e custo, do tratamento distinto, preferencial, obsequioso, sempre servil, sorridente, das compras, dos passeios, do sexo a qualquer hora do dia em ambientes muito, muito sofisticados e restritos, das praias particulares e da alta moda, dos helicópteros, dos jatos privé, dos Jaguares, das limousines blindadas. Eles nunca desistirão do poder, nunca abrirão mão da mínima parte das garantias disto para si e para as próximas gerações - só os seus. Eles nunca permitirão, nunca incentivarão a menor dúvida que arrisque apontar um caminho que eventualmente possa dar em algo diferente disso, mesmo num futuro longínqüo. Eles nunca deixarão de comprar a todos, um por um ou em lotes, e de matar as exceções (metafórica e literalmente). Eles nunca desistirão do poder, que lhes dá todo o tempo de sua vida para jogar, brincar, gozar, transgredir, perverter, sem jamais qualquer punição. Eles nunca abrirão mão das liberdades que têm, principalmente da liberdade de escravizar. Por isso tivemos um Tiradentes em quartas partes e doze avos, pulverizado em folclore, por isso temos um meio presidente que anuncia com gáudio e alegria inéditos 8 bilhões para a educação de 200 milhões de pobres e um banqueiro e mais meio cento que distribuem todos os anos 800 bilhões para o deleite de alguns milhares de ricos.

Eles nunca abrirão mão disso. O que é nosso direito, só conquistaremos com nossas próprias mãos, que terão que ser muitas e agir juntas.

Comentários

Marconi Leal disse…
Mãos e paciência. Muita paciência. Ou antes, pelo contrário: a ausência total de paciência e a explosão final. E, então, enforcar o último banqueiro com as tripas do último dono de gravadora.
Anônimo disse…
Liberta quae sera tamen (se a memória não me falha).