Mulher de brigadiano

(Foto: Carlo Buzzatti - Yeda (de branco) assumindo o comando da tropa)

“O gaúcho desde piá vai aprendendo
A ser valente, não ter medo, ter coragem.
Em manotaços do tempo e em bochinchos
Retempera e emoldura sua imagem.

Nããão podemo se entregá pros home
De jeeito nenhum, amigo e companheiro.
Não tá morto quem luta e quem peleia.
Pois lutar é a marca do campeiro.”

O gaúcho tempera sua imagem nos contrastes.
Gosta de ser do contra.
Quando o brasileiro reelegeu FhDôso,
O gaúcho elegeu o bigodudo Olívio.

Logo depois, quando o brasileiro elegeu Lula Paz e Amor,
O gaúcho elegeu Rigotto, Coraçãozinho de Leão.
(um coração que também chora – quando perde eleição).
E agora que o Brasil reelegeu Lula, o Barba Aparada,
O gaúcho escolheu Yeda das Cruzes, caminho das dores.

Não, não é que o gaúcho goste de apanhar.
È que depois de tantos conflitos históricos
(Contra os portugueses, contra os espanhóis, contra os índios, contra os uruguaios, contra os argentinos, contra os paraguaios, contra os brasileiros, contra os negros e, várias vezes e em praticamente todas as outras, contra si mesmo)
O gaúcho se habituou a contrariar.

Agora, por exemplo, em vez da tradicional mulher de brigadiano
O gaúcho resolveu ser brigadiano de mulher
E mulher de fora, de alta tucanagem.

De cara o gaúcho já saiu todo lanhado,
Com profundos cortes de 30 graus,
O orçamento em farrapos
E umas guampeadas nas paletas.
Agora sim, o gaúcho está como gosta
E não se queixa, pois pancada de amor não dói.

Finalmente o gaúcho,
Trilhado todo o sangrento caminho ancestral,
Chegou ao seu sistema ideal,
O matriarcado.

Agora sim! Estropiado, rengo e lascado,
Mas faceiro!
O gaúcho cidadão prende o ladrão,
A muque!
E o gaúcho brigadiano vai a pé lavrar a prisão
(que gasolina não tem mais não).
Mas que contentamento, e que diversão!
Está tudo lá, nas páginas do jornal e na televisão.

Mamãe Das Cruzes mandou, tá mandado!

Mas pra esse freudiano enlevo
Não ficar tão escancarado
(que não se comente, só porque é fato)
Mamãe Das Cruzes é quem manda,
Mas o Ênio é quem bacci.

Comentários

Anônimo disse…
Não podemo se entregá pros home!
Mas com mulher a conversa é outra...
Carlo Buzzatti
Anônimo disse…
Não sei de onde tiraram esta que mulher de brigadiano gosta de apanhar. Sou neta, filha e esposa de brigadiano e as mulheres de brigadiano que conheço nunca apanharam. Mesmo assim, interessante o poema.
Jean Scharlau disse…
É lenda, Regina, tudo fantasia. Como aquelas outras que gaúcho é mais macho e politizado que os outros. Deve ser coisa de antanho, do tempo do Nelson Rodrigues, para quem todas poderiam ser mulheres de brigadianos (a dar-se crédito à lenda, claro).

Eu sou amigo de alguns brigadianos e conheço suas respectivas consortes (sem nenhuma ironia aqui) que atestam total descrédito a essas fantasias, tanto às brigadianas quanto às rodriguianas. isto deve ter sido invenção de algum magoado com as mulheres e com os brigadianos.

Sinceros parabéns pelo honroso (e bonito) histórico familiar. Um abraço.
Anônimo disse…
Bravo, bravíssimo. Muito bom. Novos tempos, novos costumes. Quem diria que os centauros dos pampas chegariam a este ponto?
Um abraço.
(PS: eu fora desse negócio de ser brigadiano de mulher. Sou bagual que não se entrega sssim no mais...)
Anônimo disse…
Caríssimo Jean,

Que poema monumental!!! Tuas palavras foram muito bem postas: uma deliciosa ironia!

Referenciar-te-ei com toda a certeza mais tarde, em um novo post. PARABÉNS!!! :D

Pra mim, quando dizem que o gaúcho é o povo mais culto e mais politizado do país, isso não passa de mera tertúlia flácida para acalentar um bovino. Até já postei sobre isso há meses atrás...

- O povo mais culto do país tem uma feira do livro ao ar livre cuja lista de mais vendidos SEMPRE inclui livros esotéricos, de auto-ajuda e de culinária;

- O povo mais politizado do país é que nem time de futebol que nunca é campeão e nunca é rebaixado: não lota estádio nem na hora ruim nem na boa pois, quando vota e ganha, não sabe por que ganhou; quando perde, não sabe porque perdeu;

- O povo mais trabalhador, mais crítico e mais combativo do Brasil comemora até hoje uma guerra na qual levou a maior sumanta da história.

E aí?! Como ficamos?! Perde a burguesia, com a violência urbana; e perdemos todos os demais, com o desemprego, com a destruição da natureza e com a corrupção.

Este país precisa é de EDUCAÇÃO. Educação massiva, de qualidade. Ostensiva. Insistente. Chata. Pentelha. do tamanho e do peso de um porta-aviões, pois mala sem alça é brinquedo de criança.

[]'s,
Hélio
Anônimo disse…
impagavel....
teste disse…
eheh. Muito bom.