Os intelectuais são uma 'raça' à parte

Os intelectuais começam se fazendo e terminam se achando, principalmente os intelectuais de academia, aquela turma que se organiza e hierarquiza para malhar os neurônios. Têm horários, métodos, sedes grandiosas, inúmeros equipamentos, bolsas, graus, faixas e títulos. Normalmente deixam os neurônios de um jeito que só eles acham bonito e juram saber para que é que serve. Muitos deles tomam anabolizantes, tem gente que toma doses cavalares de Olavo de Carvalho e se acha linda, depois, em fim de carreira, acaba usando até Diogo Mainardi. Há várias drogas similares no mercado, das mais variadas procedências, porém causadoras dos mesmos efeitos - um inchume nos neurônios e na personalidade do usuário, mas estes são casos extremos.

Geralmente os caras têm sonhos de grandeza e respeitabilidade e miram-se, claro, no exemplo dos grandes e respeitáveis que os precederam e que ostentam essas benesses diante dos novatos que, com a oferenda de seus cativos olhares e ouvidos, são os principais provedores desse galardão aos intelectuais seniors. Uma das regras da intelectualidade é jamais - j - a - m - a - i - s - dizer alguma coisa, ainda que simples, de modo simples, pois isto os igualaria ao comum das gentes, à chinelagem intelectual que busca o entendimento pelo público, coisa desprezível e mesmo indesejável para um verdadeiro intelectual de academia. Povo é um troço até curioso às vezes, por peculiar , mas é meio nojento e até perigoso, deve ser olhado de óculos, mais por proteção que outra coisa, e de preferência de trás de uma mesa de conferências, mediador e microfones, ou pela internet, que é muito mais seguro. "Se você é um intelectual e quer participar desta academia lembre-se: o povo são os outros e devem ficar lá fora - limpe sua mente ao entrar aqui, passe-a bem pelos autores A, B e C e um dia chegarás ao X, ao Y e ao Z e descobrirás o Ômega de todas as questões".

Eu poderia fornecer-lhes uma perspectiva mais acurada e detalhada dos intelectuais, mas para isto precisaria de observá-los melhor em seu habitat e estudar seu modus vivendi, para o que na verdade não tenho saco nem muita disponibilidade de tempo e oportunidade, já que eu sou do tipo que é evitado por esse pessoal - sou povo demais, então me desculpo com vocês, pego minha caneta e uma cervejinha e sigo chinelando pelos guardanapos de boteco e no tecladinho aqui de casa mesmo.

(Em seqüência ao papo com o Marden.)

Comentários

Anônimo disse…
"Se Materazzi, o jogador da seleção italiana de futebol, aparecesse por aqui, esse é o método que ele usaria para enfurecer os petistas. Ele diria: vote em Geraldo Alckmin. Ou: sua irmã vota em Geraldo Alckmin. Basta pronunciar essas palavras que os petistas saem distribuindo testadas" É um trecho da coluna de Diogo Mainardi na Veja, cujo título é “Voto de nariz tapado”. Adiante, escreve ainda: “Em tempos normais, eu argumentaria que é melhor se abster do que votar. É melhor ir à praia do que votar. É melhor ficar cochilando no sofá do que votar. Só que este é um momento particular. Os petistas precisam ser punidos pelo mensalão. E sobrou apenas uma maneira de puni-los: tirá-los do poder votando em Geraldo Alckmin. É pouco? Claro que é pouco. É um amesquinhamento? Claro que é um amesquinhamento. Mas agora é tarde demais. Todos os mecanismos democráticos falharam, e restou somente essa saída plebiscitária, essa saída bolivariana, essa saída bananeira. Com os petistas ou sem os petistas. Com Lula ou sem ele.”

Diogo Mainardi, Veja
Cé S. disse…
Bem, como intelectual-de-academia, percebo que não estou agradando...
Jean Scharlau disse…
Que é isso César? Tu te consideras um intelectual de academia do tipo que caricaturizei acima? Duvido. Começa que teu interesse pelo povo... Acho que deste algum ouvido à voz do diabinho corporativista.

Ora, se concordamos que não há interesse sério por parte da maioria dos intelectuais brasileiros pelo seu povo e cultura, se concordamos que isto tem a ver com a academia ser uma das sedes do poder da elite buana... Bem, como se consolidaria o exercício desse 'poder buana' sobre a mente dos intelectuais em formação? Foi o que tentei especular em forma de sátira (e bem superficialmente) porém em linguagem não acadêmica (de propósito), acima.

Abraço de fã. Jean.
Cé S. disse…
Ok, entendo. Mas acho que precisamos ter cuidado para não tirar o crédito de intelectuais acadêmicos de primeira importância para nossa autocompreensão, gente como Alba Zaluar.

Quanto à caricatura, é perfeita para muitos e muitos casos. Muitos acadêmicos têm a atitude PSDBista de confundir críticas com incompreensões. Tipo: alguém diz para o intelectual que ele está errado, e ele responde que o interlocutor não entendeu suas palavras, pois se entendesse concordaria, visto que aquilo que ele diz é tão claro quanto 2+2=4. Isso precisa ser ridicularizado mesmo.
marden disse…
quanto ao post, hilário e certeiro.

acho que estamos de acordo que há uma doença da indiferença, que se abate sobre um grande número de aspirantes a intelectuais e intelectuais de carteirinha --e o que deve ser vivamente combatido é isso.
mas é claro, essa enfermidade não lhes é exclusiva, e seria simplesmente bobo dizer que é algo que decorre da própria atividade intelectual.

o que torna certos fulanos intragáveis é uma má operação que cometem: entendem a atividade de pensar como atrelada à mentalidade própria das elites, de modo que alguém só está em condições de dominar suficientemente a primeira se já é proficiente na segunda.
ou tanto pior: fazem-nas coincidir.
Anônimo disse…
O pior, Scharlau, é quando a gente se esforça para escrever umas mal traçadas, e alguém lê e diz: "Olha só, tá se achando! Tá todo metido a intelectual".
Bárbaro isso: "Os intelectuais começam se fazendo e terminam se achando"....

Graaaaande sacada, não é?

Gostei dos seus escritos, gaúcho... muito bons!

Foi o Roy quem me deu seu endereço e agora vou freqüentar assiduamente.
Anônimo disse…
I say briefly: Best! Useful information. Good job guys.
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