Eu te peço perdão, embora não me conheças, nem eu nunca tenha te visto.
Eu te peço perdão porque tenho seis casacos e tu não tens uma camisa.
Eu te peço perdão porque tens os braços nus cruzados sobre a réstia de calor que treme em teu peito e eu tenho os meus escondidos.
Eu te peço perdão porque levo a sério coisas sem importância nenhuma e ignoro as que fazem toda a diferença.
Eu te peço perdão por andares a esta hora na rua, catando cascas para carregar quilômetros e transformar em pequena parte do insuficiente de cada dia.
Eu te peço perdão, porque a maior responsabilidade por isto não é minha nem tua e isto alivia a mim, mas a ti não.
Eu te peço perdão porque festejo realizações, enquanto tuas derrotas se multiplicam e crescem sem que eu preste qualquer atenção.
Eu te peço perdão porque só me deixei aprender as distâncias enormes e as proximidades mínimas.
Eu te peço perdão pelo que sentes quando te comparas comigo e com os outros como eu.
Eu te peço perdão pela permanente insuficiência e plena inadequação dos meus sentimentos para contigo.
Eu te peço perdão pelo que penso e sinto por ti.
Eu te peço perdão porque já tive ótimas idéias e intenções para te ajudar, quando estava quase tão mal quanto tu e ao melhorar as esqueci.
Eu te peço perdão pelos meus filhos, que talvez nunca venham a dar-se conta de que devem pedir perdão a ti e aos teus filhos.
Eu te peço perdão porque estás morrendo e a minha culpa não te salva e em nada te ajuda.
Eu te peço perdão porque a tua morte na rua não faz notícia e em tua casa não faz pesar.
Eu te peço perdão por tantas palavras e nenhum auxílio. Nem amanhã à tua família, nem a quem sofria contigo.
Eu te peço perdão porque logo estará outro como tu agonizando aqui mesmo onde estás.
Eu peço perdão a ti, enfim, porque já não pedirei a esse outro.
30 de Outubro de 2003
Eu te peço perdão porque tenho seis casacos e tu não tens uma camisa.
Eu te peço perdão porque tens os braços nus cruzados sobre a réstia de calor que treme em teu peito e eu tenho os meus escondidos.
Eu te peço perdão porque levo a sério coisas sem importância nenhuma e ignoro as que fazem toda a diferença.
Eu te peço perdão por andares a esta hora na rua, catando cascas para carregar quilômetros e transformar em pequena parte do insuficiente de cada dia.
Eu te peço perdão, porque a maior responsabilidade por isto não é minha nem tua e isto alivia a mim, mas a ti não.
Eu te peço perdão porque festejo realizações, enquanto tuas derrotas se multiplicam e crescem sem que eu preste qualquer atenção.
Eu te peço perdão porque só me deixei aprender as distâncias enormes e as proximidades mínimas.
Eu te peço perdão pelo que sentes quando te comparas comigo e com os outros como eu.
Eu te peço perdão pela permanente insuficiência e plena inadequação dos meus sentimentos para contigo.
Eu te peço perdão pelo que penso e sinto por ti.
Eu te peço perdão porque já tive ótimas idéias e intenções para te ajudar, quando estava quase tão mal quanto tu e ao melhorar as esqueci.
Eu te peço perdão pelos meus filhos, que talvez nunca venham a dar-se conta de que devem pedir perdão a ti e aos teus filhos.
Eu te peço perdão porque estás morrendo e a minha culpa não te salva e em nada te ajuda.
Eu te peço perdão porque a tua morte na rua não faz notícia e em tua casa não faz pesar.
Eu te peço perdão por tantas palavras e nenhum auxílio. Nem amanhã à tua família, nem a quem sofria contigo.
Eu te peço perdão porque logo estará outro como tu agonizando aqui mesmo onde estás.
Eu peço perdão a ti, enfim, porque já não pedirei a esse outro.
30 de Outubro de 2003
Comentários
A mídia puxa o coro dos descontentes para o lado que quer. E o lado que a mídia quer é sempre o do dono do veículo - é esse que paga seus motoristas - manda quem pode, obedece quem precisa - alguém duvida disto?
Em meio ao coro de descontentes e reivindicadores sempre estarão aqueles que odeiam isto, este e aquele, que xingam, bradam e vociferam, e que são sempre os primeiros a juntar as pedras do chão e jogar nas vitrines e em outras pessoas, a incitar a multidão à estupidez e ao quebra-quebra. Esses, ou são bem conscientes dos seus objetivos, ou são idiotas úteis.
Desde a ditadura até o desgoverno do PSDB inclusive, têm sido dadas rádios e tvs a salafrários da pior espécie - esses é que escolhem o que será manchete. Desculpem por dizer-lhes assim o óbvio, mas é que tem quem faça questão de não vê-lo e negar até que exista.
O governo Lula não tem sido o governo dos meus sonhos, mas é mil vezes melhor que o pesadelo que o antecedeu e que quase nos transformou no mais pobre país africano.
Estamos no caminho certo, desde que não retrocedamos aos políticos Doutores Honoris Causas Próprias, que estão mui contentes, esfregando suas mãos leves.