O Mercado

O Mercado põe no teu nariz o seu dedo perfumado,
depois, com o mesmo dedo comprido aponta o frasco.
O Mercado é assim :
sensualmente agressivo, sacanamente charmoso.

O Mercado quer que protejas tudo o que te proporciona.
Ele sabe se proteger e te ensina,
por isto te venderá tudo o que precisarás comprar
e, conhecendo-o, te digo – vais mesmo precisar.
O Mercado é assim : mafioso.

O Mercado é louco por ti, Diva do Consumo,
e vai te cantando e te engolindo e transformando,
transformando no que se transforma tudo que é engolido.
O Mercado é um tarado!

Porque o queres e o desejas,
e já sem ele não vives, nem sabes,
o Mercado te domina
e te põe então, cada vez mais, a trabalhar.
O Mercado é assim, minha flor,
um cafetão : cheio de apetites e nenhum pudor.

Enfim, o Mercado, igual a ti, não te ama.
Por isto te excita, te escracha, te inflama.
O Mercado é igual a ti,
só que faz caminho inverso :
bilhões de vezes ampliado, inclusive por ti,
o Mercado só cresce,
enquanto tu desapareces.


Poema distribuido no III Fórum Social Mundial de Porto Alegre.

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